Há treze anos não sei o que é dar presente para meu pai. Isso até que não me afeta pois nesses mesmos 13 anos tive sogro para me preencher esse espaço, que não sei se é vazio já que tem a estrita finalidade de esvaziar meu bolso no mês de agosto. Marketing, mundo moderno, tudo bem, é assim que a máquina gira. Tempos depois o entretenimento se tornou divertido: tinha dois filhos para me ajudar nessa coisa de presente ainda sem ter idade para entender que coisa é essa de dia dos pais. A escola também marca presença. Vem um cartãozinho, e sempre acompanhado de um presentinho meigo feito pelas mãozinhas deles. É bacana, emocionante. Eles cantam uma musiquinha e os pais fingem que estão gripados para esconder as lágrimas que se desviam para o nariz.
De vez em quando fico pensando naqueles que não tem essa referência, o pai, em suas vidas. Em um pais de 5 milhões e meio de crianças sem o nome paterno na certidão de nascimento não é difícil encontrar quem não tenha pai para abraçar no segundo domingo de agosto.
Isso também é muito relativo. Às vezes é melhor não ter pai nenhum do que viver a mercê dele e de suas chibatadas, crescer com a autoestima debaixo da sola do pé e viver remoendo rancor pelo pai que se teve. É o que me consola quando penso nessa criançada e nas pessoas que envelheceram, tiveram filhos e netos, mas que nunca conheceram a figura masculina responsável pela grande aventura que foi sua vida.
Nesse minha mania meio trágica de ver a vida, por mim não passou despercebido amigos adotivos, pessoas que podem até não ter conhecido seu pai, mas aí veio uma tia, uma avó ou a prima em segundo grau de sua mãe para ajudar a criar a criança cujo pai sumiu pelo mundo.
Também tem gente que não está nem aí se teve ou não pai, mas tem a turma que fica meio ressentida e a coisa fica sinistra quando doenças genéticas começam a aparecer. Quando se conhece o histórico familiar de câncer e hipertensão podemos nos antecipar, e quem não sabe bulhufas de sua constituição genética? Que genes você carrega? Calvície? Tendência a obesidade ou diabetes?
Ainda nesse assunto, na minha família três são os primos sem o nome do pai no registro, mas o pai de Marcos se quer sabe que foi pai. Namoro de praia, um argentino, o resto você conclui. Nasceu em outubro e sabe ser 50% portenho. Ao menos foi isso que o rapaz disse à minha prima. É, tem essa ainda. A vizinha do 302 foi um caso parecido, desta vez um refugiado do Haiti que já voltou para seu país natal e só vê o filho por whatsapp.
E agora já existe um outro tipo de falta de pai, e na minha família, como toda gigantesca família, isso também se fez presente. A famosa produção independente fez minha tia se torcer de arrependimento quando o câncer de mama apareceu. "E agora? Quem vai cuidar do meu garoto?" Pois é. o que era para ser independente dependeu de todo mundo, inclusive o pai do menino, procurado às pressas e colocado na obrigação de assumir um menino de 9 anos de idade que se quer sabia da existência e que não ficou nada feliz com ela. O breve encontro teve a finalidade de roubar sua paternidade. Ficou magoado, e não sem razão. E lá está meu primo, hoje com 20 anos na cara, lamentando ter sido um aspecto na vida daquele que o deveria, pelo menos em tese, amá-lo.
Para aqueles que não conheceram o pai, que esse domingo seja o dia de abraçar o tio, o avó, o padrasto e até o ex-namorado da mãe, aquele de 1990 o ajudou a pescar e que vez ou outra o levava à escola. Pra quem também não teve um pai postiço, sogros, eu que o diga, até que funcionam como um bom suporte. E tem a turma dos sem-pai que neste domingo terá o prazer de jogar tudo isso pra cima e receber de seus filhos o abraço esperado. E quer saber? Viver é isso aí mesmo. É lamentar o que nos fizeram, é lamentar o que não foi feito, é olhar para frente e dar abraços e sorrisos a quem preencheu nossas vidas.