Saúde

Pressão aumenta e o fim do isolamento parece inevitável

Uma semana após a maioria das prefeituras da região oeste ter decretado o fechamento das empresas para contenção do novo coronavírus, pedindo o isolamento domiciliar, os prefeitos se veem sob forte pressão para permitir a retomada das atividades comerciais e prestação de serviços.

Pressão aumenta e o fim do isolamento parece inevitável

Reportagem: Cláudia Neis

Cascavel – De portas fechadas e sem entrada de receita desde a última sexta-feira (20), empresários de Cascavel e de diversas cidades da região pressionam a administração municipal para mudanças nas regras da quarentena permitindo a retomada das atividades. Nas redes sociais, intensificou-se ontem o movimento de empresários que disseram que voltarão ao trabalho na próxima segunda-feira (30), usando como argumento o discurso do presidente Jair Bolsonaro, que tem criticado as medidas adotadas por estados e municípios e seus impactos econômicos.

Vídeos de um buzinaço em Maringá correram as redes sociais, incendiando a discussão. Em Foz do Iguaçu, ontem mesmo um grupo já estava convocando ato semelhante.

Prefeitos acuados

Os prefeitos têm sido cada vez mais pressionados nos últimos dias pelas associações comerciais e empresários para que as atividades sejam retomadas. Em Cascavel, na manhã de ontem (26) líderes de diversos setores se reuniram com representes do Cadee (Comitê de Apoio e Defesa a Empresa e Empregos) e apresentaram pedidos de flexibilização da quarentena.

O presidente do Sindilojas (Sindicato dos Lojistas e do Comercio Varejista de Cascavel e Região Oeste do Paraná), Leopoldo Furlan, diz que a preocupação é com produtos e serviços essenciais. “Muitos lojistas têm produtos que podem vencer, estoques… Tem também a questão das oficinas mecânicas que precisam consertar veículos para que possam continuar a rodar… tudo isso precisa ser analisado”.

Ainda na terça (24), o prefeito Leonaldo Paranhos disse que tem um plano para a retomada da economia. A proposta será apresentada nesta sexta-feira (27) ao COE (Centro de Operações de Emergências), às 17h, e no amanhã à Acic (Associação Comercial e Industrial de Cascavel).

De acordo com o prefeito, a sociedade cumpre cada uma das etapas com a consciência coletiva de segurança à vida e garantias econômicas. “Nunca vivemos um cenário parecido. É preciso ter foco, parcimônia e resiliência para ser assertivo diante de cada mudança de cenário. E ouvir é parte indispensável nesse processo. Como gestor, preciso tomar decisões céleres, mas com a capacidade de engajar os demais e experientes gestores de Cascavel para que possamos conduzir com coerência e efetividade”, acrescentou.

MP recomenda “cautela” a Paranhos

No fim da tarde, o Ministério Público emitiu uma recomendação administrativa ao prefeito Leonaldo Paranhos, assinada por cinco promotores de Justiça, para que ele não tome qualquer decisão contrária às medidas de isolamento até agora vigentes sem que seja amplamente debatida no COE e suas comissões, cujas deliberações deverão se dar com base exclusivamente em evidência e fundamentos científicos, sem interferências diretas de posições econômicas e políticas; e que revogue imediatamente qualquer liberação já realizada desde 25 de março contrárias às medidas de isolamento até agora vigentes; e reforça que o prefeito não imponha ao COE qualquer conduta ou posição, permitindo a apreciação do plano de ação que será proposto, comprometendo-se a respeitar a posição fundamentada do comitê.

A reportagem do Jornal O Paraná solicitou informações do prefeito a respeito do movimento dos empresários que pretendem romper o isolamento e sobre a recomendação do MP, mas até o fechamento da edição não havia manifestação oficial.

Na recomendação, os promotores acrescentam que seu descumprimento pode implicar em possíveis sanções e medidas correspondentes, independente de posterior e eventual responsabilização pessoal por dano moral coletivo.

Na região, associações cobram prefeitos

A pressão empresarial não se restringe a Cascavel. O pedido de reabertura do comércio foi incitada inicialmente pela ACP (Associação Comercial do Paraná) no início da semana, e, com isso, as associações comerciais iniciaram as tratativas com as administrações municipais.

Em Matelândia, a Associação Comercial e Industrial enviou ofício à prefeitura pedindo a abertura do comércio. Em Marechal Cândido Rondon houve movimento semelhante e a situação já é avaliada pela administração. Em Nova Aurora, apesar do pedido oficial dos empresários, ontem foi postado na fanpage do Município que as regras não haviam mudado até essa quinta-feira (26): “Vamos ficar em casa! Por enquanto, as medidas continuam em Nova Aurora”, dizia a postagem.

Em Foz do Iguaçu, a Acifi (Associação Comercial e Empresarial de Foz do Iguaçu) informou, por meio de nota, que pretende reabrir o comércio a partir da próxima semana. Com outras entidades, a associação cobra do prefeito Chico Brasileiro a derrubada dos decretos que obrigaram o fechamento de serviços não essenciais. O fechamento do comércio foi uma medida tomada como precaução para prevenir a transmissão e o contágio pelo novo coronavírus (covid-19).

Segundo a Acifi, todas as medidas de segurança estão sendo tomadas para diminuir os impactos que podem ser causados pelo novo coronavírus e diz estar trabalhando em parceria com a Itaipu Binacional e com os 54 municípios da região para ampliar os testes rápidos para coronavírus e o número de leitos de UTI para atender os casos graves da doença.

Em Santa Helena e Assis Chateaubriand, as associações seguiram a mesma linha. O prefeito de Assis, João Aparecido Pegoraro, em transmissão via Facebook, pediu paciência aos empresários e afirmou que nova posição deve ser assumida após um decreto do governo estadual que seria publicado neste sábado (28). Em Santa Helena, reunião similar aconteceu ontem.

Comércio reabre em Entre Rios

Em Entre Rios do Oeste, o comércio e os serviços já foram retomados nessa quinta-feira (26) após o prefeito Jones Heiden atender o pedido da associação comercial e flexibilizar as medidas publicadas anteriormente.

Com isso, o comércio varejista e os prestadores de serviço (borracharias, oficinas e salões de beleza) voltaram à atividade, sob a condição de que respeitarão as medidas de segurança, com o uso de equipamentos individuais, como luva, máscara, e outros, e adotar atendimento com hora marcada. O fechamento de bares, academias e espaços esportivos e sociais permanece mantido.

Governador pede unificação estadual

Em coletiva na manhã de ontem, o governador Ratinho Júnior pediu cautela aos prefeitos e para que as decisões sejam tomadas em conjunto, sem destoarem das recomendações do Estado. Ele reforçou que a estratégia estadual é pelo isolamento, com manutenção apenas de serviços essenciais.

À tarde, após ser informada sobre as movimentações pela reabertura na região, a assessoria do governador repassou que ele “se reunirá com prefeitos, por meio de videoconferência, no próximo sábado, para falar sobre o assunto”.

Nesta sexta-feira (27), os 54 prefeitos que fazem parte da Amop (Associação dos Municípios do Oeste do Paraná) se reúnem para discutir a situação com a presença do diretor da 10ª Regional de Saúde, João Gabriel Avanci.