É aparentemente óbvio que uma sociedade seja mais violenta se seus cidadãos usarem armas, quando comparadas a outras similares, mas desarmadas. Em 1967, Leonard Berkowitz e Anthony LePage conduziram um experimento para descobrir que somente a presença de uma arma já estimula a agressividade.
Estudantes universitários do sexo masculino foram testados em pares, sendo que um deles era na verdade um cúmplice do experimentador passando-se por outro participante. No teste, eles avaliavam o desempenho uns dos outros em uma tarefa (por exemplo, listar ideias que um vendedor de carros usados pode usar para vender mais carros). As “avaliações” foram o número de choques elétricos, que variavam de 1 a 10.
Primeiro, o cúmplice avaliou o desempenho do participante usando sete choques (condição de provocação) ou nenhum choque (condição sem provocação). Em seguida, o participante avaliava o desempenho do cúmplice. O número de choques elétricos que o participante escolheu para o cúmplice foi usado para medir a agressão. O participante estava sentado em uma mesa que tinha ou uma espingarda e um revólver, ou raquetes e petecas. Os itens da mesa seriam de outro estudo supostamente esquecido ali. Houve também uma condição de controle sem itens na mesa. Os participantes que viram as armas foram mais agressivos do que os outros participantes. Berkowitz e LePage chamaram isso de “efeito das armas” (weapons effect).
Em experimentos posteriores, resultados semelhantes foram obtidos quando fotografias de armas foram usadas em vez de armas reais (Leyens & Parke, 1975). Vários experimentos de campo testaram o efeito das armas fora do laboratório, usando rifles colocados em uma picape dirigida por um cúmplice que se recusou a se mover quando um semáforo ficou verde, e usando buzina como medida de agressão (como Turner, Layton e Simons, 1975).
Esses estudos e mais dezenas de outros, inclusive estudos não publicados em revistas ou congressos foram analisados pelos cientistas Arlin J. Benjamin Jr., da Universidade do Arkansas, Sven Kepes, da Universidade da Comunidade de Virginia e Brad J. Bushman, da Universidade do Estado de Ohio no estudo “Efeitos de armas em pensamentos agressivos, sentimentos de raiva, avaliações hostis e comportamento agressivo: uma revisão meta-analítica da literatura relacionada ao efeito das armas”.
Os resultados dessa meta-análise têm importantes implicações práticas. A pesquisa mostrou que as crianças são naturalmente curiosas sobre armas, têm dificuldade em distinguir uma arma real de uma de brinquedo, pode mexer e atirar nelas mesmas ou em outros (American Academy of Pediatria, 2013). Mais de um terço dos lares norte-americanos com filhos tem pelo menos uma arma (Schuster, Franke, Bastian, Sor, & Halfon, 2000) e apenas em 39% dessas casas as armas são trancadas, descarregadas e separadas da munição, como recomendado pela Academia Americana de Pediatria. Algumas dessas armas estão à vista, em armários de vidro ou prateleiras.
Além das recomendações da AAP, os pais também devem dar aos seus filhos brinquedos que não sejam armas.
Mario Eugenio Saturno (cientecfan.blogspot.com) é tecnologista sênior do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e congregado mariano