Política

MP abre inquérito criminal contra Traiano e Plauto

Processos têm como base a colaboração premiada do dono da Valor Construtora

Curitiba – O MP-PR (Ministério Público do Paraná) instaurou dois inquéritos criminais para apurar as eventuais participações do presidente da Assembleia Legislativa, Ademar Traiano (PSDB), e do deputado estadual Plauto Miró (DEM) nos desvios apurados pela Operação Quadro Negro.

Os processos têm como base a colaboração premiada de Eduardo Lopes de Souza, dono da Valor Construtora e principal delator do esquema que, segundo as investigações, desviou mais de R$ 20 milhões de obras em escolas estaduais.

Os inquéritos criminais foram instaurados pelo procurador-geral de Justiça, Ivonei Sfoggia – a quem cabe abrir investigação contra autoridades estaduais com prerrogativa de foro -, após o TJ-PR (Tribunal de Justiça do Paraná) ter autorizado a apuração contra os deputados.

O MP confirmou oficialmente a abertura dos processos, mas acrescentou que não pode fornecer detalhes sobre o andamento das investigações porque os trabalhos transcorrem sob segredo de Justiça.

Tanto Traiano quanto Plauto são candidatos à reeleição neste ano.

O que disse

Em sua colaboração premiada – homologada ano passado -, Lopes de Souza havia mencionado que Traiano teria sido beneficiado pelo esquema ao receber propina proveniente de dinheiro desviado de obras das escolas. O deputado nega. Segundo o empresário, os repasses de recursos à campanha de Traiano, em 2014, teriam sido definidos em reunião realizada na casa do então governador Beto Richa (PSDB).

O dono da Valor afirmou ter se comprometido a dar R$ 100 mil ao deputado e disse que fez a entrega pessoalmente a Traiano, no gabinete da Liderança do Governo na Assembleia. Ao perceber que havia mais dinheiro na mala, o parlamentar teria dito: “Não pode me dar mais?”. O delator, no entanto, teria explicado que o restante dos recursos já estava “comprometido” com o pagamento a outros deputados.

Lopes de Souza relatou ainda outros três pagamentos de R$ 100 mil a Traiano – feitos em dezembro de 2014 e em fevereiro e abril de 2015. Em uma das ocasiões, o empresário disse ter entregado a propina na casa de Traiano e que colocou o dinheiro em uma caixa com garrafas de vinho para evitar suspeitas.

No fim de julho, Lopes de Souza voltou a ser ouvido pelo MP para detalhar a eventual participação do presidente da Assembleia nos crimes investigados.

Plauto Miró

Na sua delação à Justiça, o dono da Valor Construtora disse que o deputado Plauto Miró (DEM) teria recebido R$ 600 mil em propina, em duas parcelas de R$ 300 mil. Parte do dinheiro teria sido entregue na própria Assembleia Legislativa e a outra parte em uma padaria no Bairro Batel, em Curitiba. Em ambos os casos o pagamento teria sido feito em dinheiro vivo. O deputado nega.

Eduardo Lopes de Souza afirma que o dinheiro para bancar os aditivos de contratos com as construtoras saía do montante que a Assembleia Legislativa tradicionalmente devolve ao Poder Executivo, como sobra de orçamento.

Segundo Lopes de Souza, cerca de R$ 6 milhões em aditivos contratuais teriam sido bancados por esses recursos. Como Plauto é primeiro-secretário da mesa-diretora da Assembleia, ele teria cobrado 10% sobre este valor para “arrumar” o dinheiro, de acordo com o delator. Os aditivos foram assinados pelo ex-governador Beto Richa em 3 de dezembro de 2014.

O que dizem os deputados

Em nota, a assessoria do deputado Ademar Traiano (PSDB) afirmou que ele “repudia as denúncias, não foi intimado e está à disposição da Justiça para os esclarecimentos que forem necessários”.

O deputado Plauto Miró (DEM) disse que já fez todos os esclarecimentos necessários sobre o assunto ao Ministério Público. “O inquérito servirá para mostrar a inexistência dos fatos que foram atribuídos a ele”, diz a defesa.

Em maio, quando o depoimento do dono da Valor foi divulgado, o ex-governador Beto Richa afirmou que “são falsas as informações prestadas por um criminoso confesso que não tem fundamentos ou provas”; e que determinou investigações quando soube das irregularidades.