Política

Eleições 2020: ataques e acusações marcam o 1º debate a prefeitos de Cascavel

Os candidatos tiveram oportunidade de falar sobre temas específicos e perguntarem entre si

Eleições 2020: ataques e acusações marcam o 1º debate a prefeitos de Cascavel

Cascavel – Quem esperava um debate quente não se decepcionou. Ataques e acusações deram o tom em todos os blocos no embate que colocou, pela primeira vez nestas eleições, os oito candidatos a prefeito de Cascavel frente a frente. Major Arsênio (PRTB), Juarez Berté (DEM), Inês de Paula (Progressista), Evandro Roman (Patriota), Marcio Pacheco (PDT), Leonaldo Paranhos (PSC), Paulo Porto (PT) e Carlos Moraes (Avante) participaram ontem à noite do debate organizado pela AMC (Associação Médica de Cascavel), mediado pelo médico Jorge Luiz dos Santos, transmitido ao vivo pelas redes sociais.

Os candidatos tiveram oportunidade de falar sobre temas específicos e perguntarem entre si.

Logo no começo ficou evidente a triangulação estabelecida por Roman, Moraes e Pacheco, que não pouparam críticas ao atual prefeito, Leonaldo Paranhos. Sozinho, Berté engrossou o coro contra o atual governo com suas próprias fileiras de queixas.

O candidato à reeleição fez um esforço tremendo para manter (ou pelo menos aparentar) a calma, mas foi o autor de quatro pedidos de direito de resposta, dos quais dois foram deferidos. Usou de ironias para rebater sem elevar o tom, mas também não poupou ataques. Disse que Paulo Porto era melhor vereador antes do PT, que Roman se apaixonou por Brasília ao sugerir que ele não conhecia tão bem Cascavel e que Moraes viveu tempos em outros estados brasileiros. Ignorou Berté, até os minutos finais, quando tentou rebater citações sobre os pontos de ônibus, e poupou Pacheco.

Adotando um tom mais sereno, com poucas críticas, Porto teve uma atuação discreta, e bem menos incisiva que o jeito tradicional petista. O único momento em que quase travou um duelo com o prefeito foi quando o questionou sobre as declarações de que a greve do transporte coletivo tinha fins políticos. Após Paranhos tergiversar na resposta, dizendo que as empresas querem R$ 5 milhões dos caixas da prefeitura, Porto rebateu: “Minha pergunta é: por que o prefeito não denuncia os empresários, mas o sindicato e os trabalhadores? Por que não diz que os empresários estão forçando a greve? Fala muito manso com os empresários, que têm que ser denunciados, e vai [pesado] para o lado dos funcionários”.

Na sua tréplica, Paranhos usou de ironia: “Você me conhece, sabe do meu trabalho… Prefiro o Porto dos [primeiros] 3 anos, o que não era filiado ao PT. É a regra do PT, que tem que bater no Paranhos. Perdeu um pouco de coerência depois que se filiou no PT”, e emendou: “Mudei a história desta cidade, transformando a prefeitura em prêmio de qualidade de transparência”.

Em outro momento, foi a vez de Berté, Roman e Pacheco debaterem entre si o endividamento da prefeitura, criticando os empréstimos contratados e o valor da dívida, que teria passado de R$ 50 milhões para R$ 187 milhões, mais a proposta de contratação de US$ 32 milhões (R$ 180 milhões) do Fonplata. “Isso soma R$ 370 milhões. Nesse ritmo, em mais quatro anos, vai entregar o Município com mais de R$ 500 milhões em dívidas”, disse Roman, que completou: “No ritmo que estamos, se hoje temos oito candidatos a prefeito, na próxima [eleição], se mantiver do jeito que está, não vai ter três, porque ninguém vai querer pegar um município com R$ 500, R$ 600 milhões de dívidas” .

Major Arsênio teve dificuldades para apresentar de forma clara suas propostas e, assim como Inês, passou quase que despercebido do debate.

A AMC promove um segundo debate entre os candidatos no dia 10 de novembro, cinco dias antes do primeiro turno.

Acusações veladas

A estratégia armada contra Paranhos ficou evidente na primeira pergunta de Roman a Carlos Moraes, sobre família. O candidato do Avante começou a fazer uma série de acusações veladas, citando amantes e uso de drogas, mas se recusou a dizer a quem estava se referindo, dizendo que o candidato deveria se autoacusar: “Mentira não dura para sempre”. Isso não aconteceu até o fim do debate.

O atual prefeito também fez acusações sem citar nomes, dizendo que existe um “consórcio”, “garganta de aluguel”, “candidaturas compradas” “para agredir a gente”. Carlos Moraes vestiu a carapuça e pediu direito de resposta, que foi indeferida porque Paranhos não citou seu nome na fala.

Outro momento mais tenso foi quando Roman disse que o prefeito sofre de “síndrome de Poliana”, no qual o mundo dele é perfeito e que não enxerga a realidade. “Sempre achei que você era um grande ator, hoje tenho certeza. Você vive com a síndrome de Poliana, onde todo o mundo é perfeito, mas as pessoas estão morrendo nas filas e você faz de conta que isso não está acontecendo. É uma pena ter essa personalidade”.

O contra-ataque de Paranhos veio no meio de uma outra resposta, quando disse que Roman não poderia ter raiva só porque havia perdido a eleição e que não podia chamar de traição porque não votaram nele, referindo-se ao pleito de 2018, quando Roman não conseguiu ser eleito e ficou com a vaga de suplente. “Perder uma eleição não pode ser motivo de ódio. Não pode chamar as pessoas de traidoras porque não votaram (…) Perdeu e virou raiva do governador, do prefeito, do Jorge Lange…”

  • Major Arsênio (PRTB)
  • Juarez Berté (DEM)
  • Inês de Paula (Progressista)
  • Evandro Roman (Patriota)
  • Marcio Pacheco (PDT)
  • Leonaldo Paranhos (PSC)
  • Paulo Porto (PT) Carlos Moraes (Avante)

Veja o debate completo:

Saúde pública foi o tema mais debatido

 

Na primeira resposta, sobre saúde pública, Berté já disparou: “Tenho observado a humilhação das pessoas de levantar de madrugada ir pegar uma fichinha”, e seguiu prometendo criar quatro centros regionais para ter médicos especialistas, onde também seja coletado exame, “para que não fique igual barata tonta andando de um lado para o outro”.

Em várias oportunidades ele repetiu que “a prefeitura tem muito dinheiro”.

Por ordem do sorteio, foi a vez de Paranhos responder. O prefeito aproveitou para fazer um breve balanço sobre os avanços da saúde dos últimos quatro anos, citando aumento de 22 para 49 equipes Saúde da Família, “saímos de 50,25% para 85% a cobertura da atenção básica. Pegamos uma rede totalmente debilitada. Reformamos 24, são 18 novas unidades que estão em construção, até abril vamos chegar a 100% de cobertura da atenção básica”. Citou ainda a reforma e ampliação da UPA Brasília, “fizemos praticamente um hospital”, o Hospital de Retaguarda, com 14 leitos de UTI e 28 de enfermaria, “contratamos 117 médicos”. “Isso foi um grande investimento”.

Paulo Porto disse que “vamos investir maciçamente na primária e faremos cobertura de 100%, e vamos criar um núcleo da saúde, o Nasf municipal. Iremos criar três distritos sanitários, uma equipe de diversos especialistas para potencializar a equipe saúde da família. Vamos trabalhar com mutirão das cirurgias eletivas, ampliar o CAE [Centro de Atendimento de Especialidades], para que tenham dignidade e ter acesso a consulta e cirurgia”.

Pacheco começou com um tom mais ácido, que foi suavizando ao longo do debate. Na primeira resposta, disparou: “Temos visto muitas propagandas de obras e reformas de UBS. Temos que ter clareza que reforma é importante, mas ela por si só não resolve o problema da saúde. As pessoas não deixaram de ficar doentes, por causa das reformas… Lamentavelmente, existem pessoas aguardando há meses exame, há anos cirurgia, e não há de se falar em deficiência de recursos. A previsão para investimentos na saúde é de R$ 360 milhões. Não se justifica o sofrimento das pessoas nas UPAs…”

Major Arsênio disse que “a roda já foi inventada” e que tem que ser feito diferente na saúde. “Seria muito bom fazer uma gestão plena se tivéssemos tudo na mão, mas temos que fazer parceria com o governo federal e o estadual”. Propôs fazer nas UPAs centro de imagem e laboratório e entrega de remédios “para que a pessoa não fique andando de cima para baixo”.

Carlos Moraes manteve o tom crítico: “A saúde pública de Cascavel gasta R$ 1 milhão por dia. Não temos resultados. Temos que estabelecer a verdade. Vejo o candidato dizer que aumentou o número de equipes da USF. Tem que parar de mentir. Pegou com 27, 13 não estavam habilitadas (…) O Edgar [Bueno] deixou com 40, e o senhor implantou mais 22”.

Após dizer que vai buscar parcerias para atender a demanda de cirurgias eletivas, Inês de Paula propôs transporte gratuito a pessoas que tenham doenças graves para que tenham tratamento mais acessível. Citou ainda a criação de um centro de especialidades para exames que ajudem a obter o diagnóstico precoce e combater a doença mais rapidamente.

Roman fechou o bloco defendendo a gestão plena para “trazer ao prefeito a responsabilidade de administrar os recursos que vêm e que dá oportunidade de receber mais recursos e ter a oportunidade de ter a melhor gestão”. Falou na ampliação do horário de atendimento das UBS e da criação de um centro de imagens: “Para ultrassonografia são 40 mil exames na fila. (…) Alguém que prometeu saúde humanizada, como explicar isso?”, alfinetou.

Outras propostas

No geral, o debate teve poucas propostas efetivas. Juarez Berté e Márcio Pacheco defenderam a transposição da BR-277 para ligar a região sul à região central de maneira mais segura. Ambos classificaram a obra como urgente. “Não foram nem feitas as alças no viaduto nos últimos quatro anos. A população daquela região foi esquecida”, reclamou Berté.

Inês de Paula e Pacheco prometeram reforço na estrutura da Delegacia da Mulher e da Patrulha Maria da Penha para a proteção das vítimas de violência. Inês falou que, no setor de habitação, pretende destinar de 20 a 30% das casas a mulheres nessas circunstâncias, para que possam viver em segurança com seus filhos. Pacheco defendeu acolhimento das crianças e uma iniciativa de capacitação para que essas mulheres consigam sua autonomia financeira.

Major Arsênio questionou Berté sobre propostas para o turismo rural, no que ele defendeu o turismo de eventos, citando espaços como Ponte Molhada, Parque Ambiental e Zoológico. Na réplica, Arsênio lembrou que a cidade tem muitas belezas naturais não exploradas, citou investimentos em um hotel fazenda em Sede Alvorada. Ao que Berté concluiu: “Precisamos fazer diferente”.

Educação X Deus

O debate começou às 21h e durante suas três horas um público entre 600 e 790 pessoas acompanhava ao vivo pelo Facebook. Muitos comentários. A maioria de partidários, defendendo seu candidato e detonando os oponentes.

Um dos pontos altos foi quando Evandro Roman denunciou que o currículo escolar, feito na atual gestão, “nega Deus”.

Segundo ele, a ideologia adotada na proposta, “não aprovada por boa parte dos professores”, nega a teoria do criacionismo, a qual diz que foi Deus quem criou o mundo. E se colocou à disposição para esclarecer aos pais.

Márcio Pacheco comprou o tema e voltou a abordá-lo no bloco seguinte.

Quando chegou sua vez de fazer a pergunta a outro candidato, Leonaldo Paranhos disse que nunca tinha visto um ataque tão grande aos professores. “Dizer que nossos 3.500 professores estão ensinando as crianças a não aceitar Deus é demais. Não podem ser atacados dessa forma. Não é verdade isso”. Paranhos parecia calmo, mas esqueceu de fazer a pergunta a Inês de Paula.