Brasília – Depois uma viagem desastrosa para Etiópia para participar da 37ª Cúpula da União Africana, com vários “desencontros” e reuniões desmarcadas pelos líderes africanos, Lula trouxe na bagagem uma “inédita” crise diplomática com Israel. Ontem (19), o ministro das Relações Exteriores de Israel, Israel Katz, criticou o presidente Lula por suas declarações sobre operações israelenses na Faixa de Gaza e o corte de ajuda humanitária a habitantes da região. Katz declarou Lula persona non grata em Israel.
“Nós não perdoaremos e não esqueceremos – em meu nome e em nome dos cidadãos de Israel, informei ao presidente Lula que ele é persona non grata em Israel até que se desculpe e se retrate por suas palavras”, postou o embaixador israelense. “Esta manhã, convoquei o embaixador brasileiro em Israel perto de Vashem, o lugar que testemunha mais do que qualquer outra coisa o que os nazistas e Hitler fizeram aos judeus, incluindo membros da minha família.”
E mais: “A comparação do presidente brasileiro Lula entre a guerra justa de Israel contra o Hamas e as ações de Hitler e dos nazistas, que destruíram 6 milhões de judeus, é um grave ataque antissemita que profana a memória daqueles que morreram no Holocausto.”
Reações
Ainda no domingo (18), primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, respondeu às declarações de Lula e afirmou, na rede social X, que “As palavras do presidente do Brasil são vergonhosas e graves. Trata-se de banalizar o Holocausto e de tentar prejudicar o povo judeu e o direito de Israel se defender”. O primeiro-ministro determinou a convocação do embaixador do Brasil em Israel para uma dura conversa de reprimenda.
A declaração do presidente causou reação de entidades como a Conib (Confederação Israelita no Brasil), que divulgou nota repudiando a comparação e na qual diz que a declaração do presidente é uma “distorção perversa da realidade”.
“Os nazistas exterminaram 6 milhões de judeus indefesos na Europa, somente por serem judeus. Já Israel está se defendendo de um grupo terrorista que invadiu o país, matou mais de mil pessoas, promoveu estupros em massa, queimou pessoas vivas e defende em sua carta de fundação a eliminação do Estado judeu”, declarou a Conib.
Embaixador brasileiro
O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, chamou “para consultas” o embaixador brasileiro em Tel Aviv, Frederico Meyer, que embarca para o Brasil nesta terça-feira (20). Também foi convocado o embaixador israelense Daniel Zonshine para que comparecesse ainda ontem (19) ao Palácio Itamaraty, no Rio de Janeiro.
Segundo nota divulgada pelo Itamaraty, as medidas foram tomadas “diante da gravidade das declarações desta manhã [ontem,19] do governo de Israel”. Mauro Vieira está no Rio de Janeiro para a reunião do G20.
“Declaração vergonhosa”
Em entrevista coletiva durante viagem oficial à Etiópia, o presidente Lula classificou as mortes de civis em Gaza como genocídio, criticou países desenvolvidos por reduzirem ou cortarem a ajuda humanitária na região e disse que “o que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino não existiu em nenhum momento histórico. Aliás, existiu quando Hitler resolveu matar os judeus”. E mais: “Não é uma guerra entre soldados e soldados. É uma guerra entre um Exército altamente preparado e mulheres e crianças”.
Para aumentar a vergonha internacional brasileira, o assessor especial para assuntos internacionais da Presidência da Repúbica, Celso Amorim, classificou como “absurda” a declaração de Lula como persona non grata em Israel e que qualquer retratação de Lula sobre suas declarações é “descabida”.
Lula falta com “honestidade intelectual”
O primeiro Museu do Holocausto no Brasil, em Curitiba, redigiu nota pública pelas suas redes sociais em reação as declarações do presidente Lula. Segundo a nota, Lula fomenta o antissemitismo e que esse preconceito tem sido “propagado e aplaudido por membros proeminentes de seu partido político”.
“A vulgarização do Holocausto não é o único problema da fala abjeta do presidente da República. Ao acionar uma seletividade cruel para equiparar Israel aos maiores algozes do povo judeu, ele falta com honestidade intelectual e novamente alimenta o antissemitismo”, publicou o Museu do Holocausto.
E mais: “Ao utilizar de forma deliberada a memória de Shoá (Holocausto) num viés deturpado e negacionista para criticar especificamente Israel (e nenhum outro país ou ator político, em qualquer outro contexto), o presidente opta por adotar um tom ofensivo contra seus concidadãos, judeus brasileiros”.
Foto: Arquivo/ABR