Política

Coluna Contraponto do dia 28 de agosto de 2018

Carlos Ratinho é novo com métodos velhos

Como diria o senador Alvaro Dias, há uma grande diferença entre a estampa facial e o que vai n’alma. O candidato ao governo, agora autodenominado Carlos Ratinho Jr, tem apenas 37 anos, se apresenta como novo na política, mas é quase um caduco, a se analisar os métodos políticos.

E as atitudes comprovam. Para adquirir músculo como caçador de votos, ele ocupou a Secretaria de Desenvolvimento Urbano no Governo Beto Richa por três longos anos. Desde os tempos do ex-governador Ney Braga no final dos anos 70, o então megaexecutivo Saul Raiz foi ungido no mesmo cargo para se viabilizar como candidato ao governo. Não deu certo. Mais pra frente, já no final dos anos 80, Roberto Requião também ocupou a secretaria de Desenvolvimento Urbano no Governo Alvaro Dias. Deu certo.

Censura

Outra tática que Beto Richa imortalizou e o candidato Carlos Ratinho Jr se vale agora é a censura a pesquisas. Beto Richa ficou tão obsessivo em impedir que os números das sondagens viessem a público, nas duas últimas disputas para o governo, que censurava até quando estava na frente dos adversários. Deu certo.

Urso velho

Eis o “novo” Carlos Ratinho seguindo a mesma trilha de quase 40 anos atrás. Urso velho não aprende truque novo diz a Masha, heroína russa do desenho infantil (convivência com netos pequenos dá nisso), e é a mais pura verdade. Mas urso novo é doidinho pra aprender truques antigos. Se vai dar certo no caso de Ratinho, veremos.

Delegacias falham

Uma professora da rede privada de ensino da capital procurou a Delegacia da Mulher em Curitiba para denunciar assédio à filha de 15 anos. Tinha em mãos uma carta deixada pelo possível agressor sob a porta do apartamento e o nome dele, um homem de 55 anos, conhecido (e já denunciado pelo condomínio por ter quebrado as câmeras do elevador) e explicou que a menina fica sozinha em casa durante à tarde e à noite.

Recusa

Mesmo assim, a Delegacia da Mulher alegou que não havia nada de concreto na denúncia e se recusou a registrar o Boletim de Ocorrência e a investigar o caso. A mãe teve que procurar uma delegacia comum da Polícia Civil, no próprio bairro, onde forneceu o nome do autor da carta e onde foi constatado que ele tinha outras denúncias de assédio. O BO enfim pôde ser lavrado.

Números

As Delegacias da Mulher registram números elevados de atendimento às vítimas de violência doméstica, assédio, etc etc. Semana passada, na Operação Cronos cumpriu 100 mandados de prisão em todo o Paraná com esse fim.

Ambiente

Mas falham quase sempre. Pra começar, o ambiente – pelo menos da delegacia da Capital – não tem nada de acolhedor, o que seria de se esperar em se tratando da fragilidade das vítimas da violência, não conta com espaço para crianças, é demorado e o atendimento, quase sempre, coloca a mulher como denunciante duvidosa.

Experiência própria

E falo por conhecimento de causa: tive uma experiência familiar, em que a mulher em estado de puerpério, com uma criança recém-nascida nos braços, foi até a Delegacia da Mulher perto do Colégio Estadual denunciar que havia sido agredida pelo pai da criança. Levava a criança porque amamentava no peito.

Política do medo

A mãe foi colocada numa sala com outras denunciantes e uma funcionária fez uma longa advertência a todas elas dizendo que, se não conseguissem provar a agressão, seriam processadas e teriam que pagar as custas judiciais. Foi insistente em afirmar que a Delegacia da Mulher não é local para “pequenas vinganças de namoradinhas rejeitadas”. E sugeriu que quem tivesse um “amigo importante” no governo ou no sistema Judiciário deveria procurá-lo para que o processo andasse mais rápido.

O que fazer

Com um sistema que já exclui a mulher dessa forma, os agressores de qualquer natureza agradecem.