Embalada pelo reaquecimento da atividade nas maiores economias do mundo, as exportações do Paraná, em julho, somaram US$ 1,8 bilhão, 11% a mais do que o resultado obtido em junho. As importações chegaram a US$ 1,5 bilhão, 6,8% acima do registrado no mês anterior. Com isso, o saldo da balança comercial no mês ficou em torno de US$ 310 milhões, valor 38% maior do que o de junho. Em relação a julho de 2020, o resultado de agora também é positivo, com crescimento de 15% nas exportações. As importações deram um salto ainda maior e ficaram 48% acima do registrado no mesmo mês do ano passado. E, por isso, o saldo da balança comercial no mesmo período ficou negativo, queda de 45%. De janeiro a julho deste ano, as exportações paranaenses acumulam alta de 14,5%, assim como as importações, de quase 40%, o que resulta em uma retração no saldo final da balança comercial do estado, de 45,5%.
Ao avaliar os números divulgados pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex), do Ministério da Economia, o economista da Fiep, Thiago Quadros, analisa que produtos expressivos na pauta de exportações do Paraná estão tendo alta considerável este ano, como é o caso madeira (+81%), produtos mecânicos (43%), material de transporte (37%) e carnes (9,8%).
Outros setores como móveis (+107%) e açúcar (+34%) também contribuem para o crescimento das exportações. “A retomada forte das principais economias do mundo pode explicar esse crescimento aqui. Quase 58% da madeira exportada pelo Paraná tem como destino os Estados Unidos, que também é o segundo maior mercado dos móveis vendidos pelo estado para fora do país”, justifica. Soja continua sendo o principal item da pauta de exportações do estado, com US$ 4 bilhões negociados este ano, seguida por carnes (US$ 1,7 bilhão), madeira (US$ 1,1 bilhão), material de transporte (US$ 848,5 milhões) e açúcar (US$ 530 milhões). Outro fator que interfere nessa conta é o câmbio. “A valorização do dólar frente ao real favorece as exportações, tornando o produto brasileiro mais competitivo no mercado internacional”, complementa. Por isso, produtos como carnes, que representam 10% do PIB industrial do Paraná, madeira e açúcar sobressaíram.
A retomada do setor automotivo do estado, que foi um dos mais afetados no ano passado com interrupção total de atividades, é uma boa notícia e também interferiu no resultado das exportações. “O segmento já acumula alta de 53% na produção nas fábricas este ano. Essa recuperação tem fomentado as exportações do setor nos principais mercados-alvo que são Argentina, Colômbia, México, Peru, Chile e Uruguai”, reforça.
Já são quase US$ 620 milhões em material de transporte negociado no mercado internacional. “Outro fator é a diversificação dos clientes externos. Além de Argentina e Colômbia, o setor ampliou o leque de destinos dos produtos, o que ajuda a sustentar o crescimento e reduz a dependência de um ou dois países”, avalia Quadros.
As importações seguem a mesma lógica. Com exceção de produtos químicos, utilizados no agronegócio, que foram os itens mais procurados este ano (US$ 2,7 bilhões), também se destacam material de transporte (1,3 bilhão), petróleo (US$1,1 bilhão), produtos mecânicos (US$ 1 bilhão) e materiais elétricos e eletrônicos (US$ 877 milhões). “Como em torno de 60% das peças e acessórios para produção de veículos são importadas, o resultado de material de transporte na pauta é reflexo da recuperação na produção do setor automotivo”, sinaliza o também economista da Fiep, Evânio Felippe.
Resultado mensal e expectativas
A análise de produtos que mais se destacaram nas exportações de julho, na comparação com julho do ano passado, não muda muito do que vem ocorrendo ao longo deste ano. Soja (US$ 668,6 milhões), carnes (US$ 318 milhões), madeira (US$ 208 milhões), material de transporte (US$101 milhões) e açúcar (US$ 100 milhões) seguem em alta.
Já nas importações, chama a atenção o crescimento de produtos químicos, material de transportes, petróleo, produtos mecânicos e materiais elétricos e eletrônicos. “Não é possível comparar o desempenho destes itens agora com o ano passado. Muitos setores ficaram totalmente parados em 2020 e deixaram de comprar matéria-prima para produção. A base de comparação é muito baixa e qualquer crescimento não reflete a realidade do cenário”, justifica Felippe.
Sobre como deve se comportar a atividade de comércio exterior até o fim do ano, ele alerta sobre uma possível redução no ritmo. “Em relação às importações, a previsão de quebra de safra pelos analistas de mercado pode frear o ritmo de compra de insumos para agricultura e impactar outros elos da cadeia produtiva do estado”, salienta.
Já Thiago Quadros avalia que mesmo diante de uma previsão otimista da Organização Mundial do Comércio (OMC), que previu crescimento de 8% na economia mundial este ano, o resultado forte do primeiro semestre sugere que até dezembro o comportamento deve mudar. “Deve haver uma maior acomodação da economia mundial após essa retomada acelerada”, acredita.
Problemas de abastecimento na cadeia de suprimentos para produção em vários setores da indústria podem comprometer o resultado daqui para frente. “Devido à grande demanda por matéria-prima no mercado internacional e aos gargalos logísticos que dificultam o transporte de mercadorias, a sobrecarga sobre os fornecedores deve aumentar. Isso pode atrasar a entrega dos insumos e desacelerar a produção nas fábricas. A normalização dessas condições ainda levará um tempo para acontecer”, estima.
Quadros alerta ainda sobre o aparecimento de novas variantes do coronavírus, que vem desestabilizando economias fortes como a China, principal parceiro comercial do Paraná – para lá seguem 32% de tudo que o estado exporta. ”Um cenário de incertezas no controle da pandemia pode gerar dúvidas sobre a recuperação da economia e atrapalhar a evolução do ambiente de negócios”, conclui o economista.