Muito mais que a burocracia, as decisões tomadas na surdina pelo poder público parecem ter muito mais impacto na vida do cidadão comum do que se imagina. A questão é que ele nem sabe porque e por quem foi prejudicado.
O que leva um presidente, no apagar das luzes do seu governo, assinar um decreto transferindo de uma para outra instituição equipamentos milionários que estão parados por pura falta de gestão pública? Detalhe: são ferramentas importantíssimas para o trabalho de inteligência de combate ao tráfico de drogas e armas e contrabando na fronteira.
A decisão do ex-presidente Michel Temer de passar para a Aeronáutica os Vants da Polícia Federal é no mínimo questionável. Afinal, por quê? Se vai retomar a operação dos equipamentos, por que não deixar onde tem necessidade?
O investimento milionário está longe de se pagar, mas a própria PF admite a relevância e a eficácia das aeronaves não tripuladas. Não houve um único voo em que o Vant não trouxe dados importantíssimos para o serviço de inteligência da região. Ele só deixou de ser usado porque cessaram o contrato de manutenção e dispersaram os agentes que haviam sido treinados para operá-lo.
A recente decisão coincide com uma outra anunciada no fim do ano passado durante uma operação mais do que estranha. Uma “força conjunta” comandada pelas Forças Armadas armou uma operação na Costa Oeste, sem conhecimento ou participação da Polícia Federal, para inibir o contrabando na região.
Do mesmo jeito que chegou, dois dias depois levantou acampamento e apenas anunciou a compra de drones (novamente investimento milionário) para atuar na região, sem citar os Vants parados em São Miguel por falta de dinheiro para pagar a manutenção.