O Brasil assiste chorado ao escândalo envolvendo o médium João de Deus. E não é por seus métodos de cura ou suas cirurgias espirituais, é por violência sexual. Em quatro dias, mais de 300 mulheres denunciaram ter sido abusadas sexualmente pelo médium, que jura inocência.
João tem 76 anos e desde os nove cura pessoas. Há quatro décadas ele abriu um centro na pequena Abadiânia, no interior de Goiás, e nesse tempo ficou famoso no mundo todo. Também nesse tempo já foi acusado de homicídio, contrabando de minério, sedução de menor e atentado violento ao puder. Nunca foi condenado.
Agora, as pessoas se dividem entre a fé que lhes fez ver João Teixeira de Faria virar João de Deus e o terror de um predador sexual como vem sendo acusado.
As mulheres que denunciam o crime teriam procurado o médium pela mesma razão de tantas outras milhares de pessoas: para obter a cura de alguma doença. Ao menos era o que ele prometia. E há milhares de depoimentos que reforçam seu poder.
Em vez do tratamento espiritual, essas mulheres dizem que foram violentadas. Não é uma nem duas. São mais de 300 e não para de chegar novos casos. Tanto que o Ministério Público precisou montar uma força-tarefa para atender à intensa procura.
Se entre o sagrado e o profano parece não ter mais distância nesse caso, há ainda um outro componente nessa história toda. O econômico.
A fama do médium colocou a pequena cidade no roteiro religioso, e esse turismo tem lhe sustentado desde então. Sem João, o que será de Abadiânia, perguntam-se.
Infelizmente não são raros os casos em que médicos e líderes espirituais abusam do poder que têm. Nesses casos, tudo o que se pode esperar é que justiça seja feita. Ainda que seja tardia.