Faltavam treze minutos para às sete da manhã de uma terça-feira, 28 de dezembro, uma manhã de verão, eu desliguei o rádio do banheiro e me despedi da Raquel, as Sonias ainda dormiam. Iniciava-se mais um dia na minha jornada de plantonista no HU. Acionei o elevador e lá fui eu em direção a garagem, mas uma surpresa estava para acontecer, uma interrupção na descida e parou entre o um e o zero, a porta se abria, mas só a de dentro.
Tentei telefonar nos telefones de contato que estão na parede, mas o celular não funcionava e aparecia sem serviço (não sabia que a TIM estava inoperante desde as duas da madrugada). Peguei o interfone mas como? Não sabia, mas ao colocar o fone no gancho estava escrito emergência ligue 1000, e então liguei para a atendente que é quase virtual, e expliquei, estou no elevador do edifício Gênova, e preciso trabalhar o elevador parou. A atendente me respondeu: estarei acionando o técnico.
Lembrei-me de ligar pelo interfone para o meu apartamento, a Raquel atendeu e pedi para ligar para o HU e avisar que estava preso no elevador e que iria me atrasar.
Pensei, o que fazer? vou sentar e esperar.
Peguei o celular novamente será que o whatsapp funciona, sim, vi algumas mensagens mas o tempo passava e ninguém vinha, tornei a interfonar para o meu apartamento e a Raquel me disse que não conseguiu falar com ninguém pois os telefones não funcionavam, não quis ligar para o apartamento da Soninha, não iria resolver, e não tinha o número do apartamento da Tania, só do Sandro que também não está mais na responsabilidade, e ainda são sete da manhã, seria maldade acordar essa gente. Toquei o alarme três vezes e ninguém apareceu, ou talvez não tenham ouvido, estavam ainda nos merecidos sonos, nos braços de Morfeu.
Liguei novamente para a emergência quase virtual da empresa de vigilância, ou será a portaria a distância.
A jovem atendeu e ouviu novamente a minha reclamação e só respondeu, eu já comuniquei o técnico, vamos aguardar mais um pouco.
Já eram 7:30 horas quando o técnico chegou, tentou por fora da porta não conseguiu e foi pelo andar de cima e com uma lanterna me mostrou uma plaqueta junto a porta e pediu para eu empurrar a porta, o fiz com a outra mão e a porta se abriu, pulei, mas antes peguei a mochila e saltei, nisto o técnico desceu um andar, estava no segundo, eu o questionei pelo atraso pois estava de plantão e tinha horário, ele me respondeu, só fui acionado às 07:06 horas mas mesmo assim eram 7:30 horas, não falei mais nada e corri para as escadas, e batendo as portas corri para o carro e me mandei para o HU onde bati o ponto às 07:45 horas.
Ao entrar já sabiam do atraso e os motivos, e rí eu que estava aparentemente calmo estrilei pois agora temos que testar (COVID) também os acompanhantes das gestantes que vão internar, tínhamos três que estavam no hospital desde 06:30 horas, mas o Hospital o HUOP, atende toda a Região Oeste do Nosso grande Paraná, teríamos que aguardar a equipe do laboratório, que estava atendendo outro setor .
A enfermeira percebeu a minha irritação e falou “Doutor”, não adianta o senhor se irritar, não tem outra solução, olhei, suspirei, pensei, não vou poder mudar o ritmo das coisas.
Fui para copa, tomei um café, pedi desculpas pela irritação, liguei o rádio na CATV e esperei, enquanto fui escrever para aguardar.
Começamos a primeira cesariana às 09:50 horas pois o nascimento ocorreu às 10:02 horas, está registrado no livro, ao som da Música Popular Brasileira no radinho ligado no fundo da sala, pois ninguém é de ferro e como disse o sábio Rei Salomão:
_ “Gritar só piora a briga. Quem respira fundo e fala com calma retoma o controle da conversa” (Provérbios 15:1).
E disse também Emmanuel:
_ “Sejam, pois, quais forem as tuas dificuldades, espera, fazendo em favor dos outros o melhor que puderes, a fim de que a tua esperança se erga sublime, em luminosa realização”. (Emmanuel – Palavras de Vida Eterna).
Dr. José de Jesus Lopes Viegas / CRM – PR 5279.
Presidente da Associação Médica de Cascavel.