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Mo Hrezi, um maratonista em jejum antes da Olimpíada do Rio

Mohamed Hrezi, de 24 anos, nasceu e foi criado nos Estados Unidos, mas vai correr a maratona dos Jogos Olímpicos do Rio pela Líbia, país de origem de seus país e o qual o corredor também possui cidadania. Sua conquista da vaga foi no fim de maio quando completou a úmida Maratona de Otawa em 2h18m40s. Entretanto, apenas a partir desta terça-feira, ele vai poder iniciar uma preparação mais intensa para o megaevento. Nos últimos 30 dias, ele estava seguindo estritamente o Ramadã.

Apesar de sempre ter vivido nos Estados Unidos, Mo Hrezi nunca deixou de seguir este feriado religioso, que acontece no nono mês do calendário islã. Durante este período, no qual os muçulmanos acreditam ser de maior reflexão e devoção a Alá, é preciso jejuar entre o nascer e o pôr do sol. Treinar durante o Ramadã me deixa um corredor mais completo. Na semanas seguintes ao feriado, tudo parece muito mais fácil com comida e água no estômago. Isto mudo a perspectiva de tudo.

Nem mesmo o fato de ter conseguido a vaga olímpica fez Hrezi abrir mão do Ramadã. Algumas correntes mais liberais do islã permitem que este período seja cumprido em outra data caso exista um motivo forte. A maioria dos atletas muçulmanos de alto desempenho optaram por fazer o Ramadã após o megaevento carioca.

Para seguir as tradições do feriado, Hrezi teve de mudar sua rotina. Os treinos que eram diurnos passaram a ser noturnos, e foram divididos em dois períodos. O primeiro era mais leve e acontecia por volta das 18h e 19h, antes mesmo de Hrezi quebrar o jejum. Já o segundo, mais pesado e já com seu corpo alimentado e hidratado, ocorria por volta de 1h da madrugada. No total, durante o Ramadã, Hrezi corria cerca de 160km por semana. Agora, promete aumentar esta quilometragem.

— Eu 100% acredito que treinar durante o Ramadã me deixa um corredor mais completo. Na semanas seguintes ao feriado, tudo parece muito mais fácil com comida e água no estômago. Isto mudo a perspectiva de tudo. Nós não conseguimos realizar o quanto somos abençoados até fazer um sacrifício como este, ficar sem beber e comer por cerca de 17 horas por dia. Após o Ramadã, temos mais compaixão e agradecimento por tudo que acontece em nossa vida — diz Mo Hrezi.

SACRIFÍCIO NOTURNO

Hrezi reconhece que o mais difícil em treinar durante o Ramadã é tentar manter o treino em alto nível:

— Durante o feriado, a medida que as semanas vão se passando, você vai se sentindo mais cansado e os treinos passam a ser mais sacrificantes. Nos Estados Unidos, estamos no verão, então é complicado achar um horário mais refrescante durante o dia para treinar. É preciso esperar o sol ficar mais baixo, pois fica muito quente e não dá para treinar sem água.

Para Hrezi, o sacrifício fica ainda mais difícil pelo fato de ele ser uma pessoa diurna. Além disso, ele, que faz parte de um clube de corrida em Michigan, acaba tendo que treinar sozinho, pois é preciso mudar o horário dos treinos. Seu treinador, apesar de não ser muçulmano, respeita as tradições de Hrezi e adapta seus horários a rotina noturna. Mesmo garantindo que este período o torna mais forte, Hrezi demonstra ansiedade para retornar a sua vida normal.

— Estou feliz por voltar a minha rotina normal. Eu sou uma pessoa que faço as coisas sempre de manhã, e estava sendo muito difícil ter que ficar acordado a noite toda e treinando duro até às 2h da madrugada. Fora que vai ser bem mais divertido voltar a treinar com meus colegas.