Brasília – O cenário é mais que favorável para o agronegócio brasileiro com o VBP (Valor Bruto da Produção Agrícola) estimado em R$ 1,142 trilhão para 2023. Os dados são do Ministério da Agricultura e Pecuária e representam um aumento de 2,4% em relação a 2022, que obteve R$ 1,115 trilhão. Para o advogado especialista em agronegócio, Francisco Torma, o resultado “é bom”. Ele acredita que o número poderia ser ainda melhor. “Na verdade, nós tivemos, e pode ser analisado dessa forma, um decréscimo no valor da nossa produção de soja. A colheita foi muito maior e isso significou um percentual de valor muito, quase, insignificante. Ou seja, a commodity perdeu preço no mercado”.
O especialista diz que os produtores têm encontrado um cenário mais difícil. “Os insumos estão caros, o custo da produção é caro, o arrendamento é caro e a nossa commodity não está mais valendo o que valia antes. Por isso que numa produção aí da ordem dos 20% acima, em relação ao ano passado, nós tivemos tão pouco valor agregado em cima. Então o número parece positivo, mas ele poderia ser muito melhor”, avalia.
O advogado especialista em direito ambiental, Alessandro Azzoni, lembra que a participação do PIB no primeiro trimestre do agro foi elevado, o que também pode ter contribuído para esse resultado: “Justamente por causa dos estoques de grãos e escoamento das produções, agora nós tivemos uma retração nessa participação do PIB, mas era esperado por causa da grande movimentação que foi no primeiro trimestre. A safra recorde de grãos foi realmente um fator que fez essa puxada. Os preços agrícolas e as exportações são os principais fatores que ainda potencializam”, observa.
O faturamento das lavouras foi 4,2%, um valor estimado de R$ 804,3 bilhões. De acordo com o levantamento, os principais fatores responsáveis pelos resultados estão relacionados à safra recorde de grãos deste ano, os preços agrícolas e as exportações. O analista e consultor de Safras & Mercado, Fernando Iglesias, explica: “Nós temos uma safra enorme, em especial de soja, tem outros produtos também que tiveram uma participação bem importante — uma safra recorde nessa temporada, o que ajuda esse faturamento”.
Mato Grosso apresentou melhor resultado na produção, seguido por Paraná, São Paulo e Minas Gerais. O faturamento foi de R$ 588,7 bilhões, que corresponde a 51,5% do VBP do país. “Nós percebemos que o Centro-Oeste vem puxando o agronegócio brasileiro com números muito interessantes porque o Centro-Oeste é um grande produtor de grãos”, aponta o especialista em agronegócio, Francisco Torma.
Ele destaca, aidna, que o agronegócio brasileiro sempre dá resultado positivo na economia do país. Ele lembra que, mesmo com a pandemia, com perdas em setores de comércio, serviços, industrial, o agronegócio se manteve crescendo. Mas, ainda assim, ele acredita que o cenário pode evoluir.
Pecuária
Já a pecuária teve retração de 1,6%, um faturamento de R$ 338,3 bilhões. Franscico Torma explica que a pecuária está em retração porque o setor está passando por uma crise financeira. “O preço da carne está baixo, o valor do leite está baixo, por conta do fomento às exportações de outros países do Mercosul, como Uruguai e Argentina. O Brasil está fazendo o trabalho de viabilizar o produtor de outros países, com dificuldade. O preço do leite está baixando e isto impacta diretamente o produtor de leite que está aí na cadeia pecuária, recebendo muito pouco pelo valor do litro”, revela.
O amendoim, com aumento real de 11,7% no VBP, arroz 11,6%, banana 16,9%, cacau 13,1%, cana de açúcar 13%, feijão 7,3%, laranja 27,2%, mandioca 40,3%, soja, 3,0%, milho 1,1%, tomate 17,3% e uva 9,7% estão entre os produtos que apresentaram melhor resultado este ano. Já a soja, o milho, a cana-de-açúcar, o café e o algodão são os cinco produtos que responderam por 81,7% do VBP das lavouras e que tiveram melhor desempenho.
Foto: ABR