Enfrentar um tratamento de saúde já é um grande desafio para jovens e suas famílias e um eventual afastamento total da vida escolar só traz mais prejuízos ao estudante, que por vezes não sabe por quanto tempo ficará longe da sala de aula. Graças ao Serviço de Atendimento da Rede de Escolarização Hospitalar (Sareh), da Secretaria de Estado da Educação e do Esporte (Seed-PR), anualmente centenas de jovens mantêm os estudos em dia de suas casas ou de unidades hospitalares.
Uma das 20 instituições de saúde que têm esse serviço é o Hospital do Câncer de Cascavel (Uopeccan), referência no tratamento da doença no Oeste do Estado. “Atendemos estudantes internados, em leitos, na casa de apoio, anexa ao hospital, para quem ainda não está liberado para ir para casa, e também na quimioterapia ambulatorial, de jovens que vêm uma ou algumas vezes na semana para fazer o procedimento e depois retornam para casa”, explica a pedagoga Aryadny Neubauer.
Ao todo, 25 estudantes são atendidos no hospital, cada um com aulas adaptadas à realidade que está passando. “Todas as manhãs eu vejo quem está por aqui e quem pode ter aulas, faço uma lista e distribuo horários aos professores, porque é comum o aluno não poder ter aula em determinados dias devido ao tratamento, e isso às vezes muda ao longo do dia”, diz Aryadny, que coordena três professores na unidade: um de Linguagens, um de Ciências Humanas e outro de Ciências Exatas.
Uma das alunas no hospital é Thaila Gabriely Bonfim, de 14 anos, do 9º ano no Colégio Estadual Prefeito Antonio Teodoro de Oliveira, em Campo Mourão, que desde 2018 é atendida pelo Sareh. “Não esperava ter aulas aqui porque quando recebi o diagnóstico achei que ia parar minha vida, parar com tudo. Mas aqui tem as aulas normais, te acolhem e você estuda normalmente. Os professores são super legais, extrovertidos e entendem o momento, se você estiver mal por causa de uma quimio, por exemplo”, afirma.
Em 2019, ela participou da elaboração do livro “Anjos do Bem”, escrito pelas crianças e adolescentes em tratamento contra o câncer infantojuvenil. O projeto foi interrompido com o início da pandemia e deve ser retomado pelo hospital neste ano.
Outro aluno no Uopeccan é Bruno Ferreira Prestes, 16 anos, da 1ª série do ensino médio do Colégio Estadual do Campo Professor Júlio Moreira, de Pinhão, outro que não fazia ideia de que teria aulas no período de internamento. “Eu gosto de estudar aqui no hospital porque os professores são muito atenciosos, sempre estão ajudando. Só tenho a agradecer pela atenção, paciência. Quando eu voltar para o colégio, não vou ter perdido praticamente nada”, diz ele, que chegou ao hospital no início deste ano.
O pensamento é compartilhado por Thaila. “Não pode abaixar a cabeça, não pode desistir. Tem que estudar sim, vai ajudar agora e no futuro principalmente”, diz.
Para a pedagoga, ver o entusiasmo dos alunos não tem preço. “É muito gratificante, pois eles não sabem o que vai acontecer e já sofrem por não estar com a família, com a escola. Estamos sempre cativando, conversando com eles pelo celular e temos esse retorno. Às vezes vem alguém na minha sala me dar um abraço”, conta.
DOMICÍLIO – Além do atendimento em 20 hospitais de nove diferentes municípios, o Sareh também vai atualmente até a casa de 322 estudantes em mais de 100 municípios do Paraná.
Uma das alunas atendias em Curitiba é Marine Trevisan, que tem Síndrome de Asperger, condição que afeta a capacidade de socialização. A mãe, Jaqueline Trevisan, relata que a filha chegou a reprovar duas vezes por faltas no 8º ano do ensino fundamental. “Ela só deixou de estudar pelos períodos de crise, que depois estabilizaram com medicação e tratamento com psicóloga e terapeuta ocupacional”, relata.
Após conhecer o programa, Marine iniciou o Sareh no segundo semestre de 2019, ainda revezando um pouco na escola e um pouco em casa, que posteriormente virou 100% em casa devido à pandemia.
“Se não fosse esse projeto, não sei como a Marine estaria, porque quando ela não sai de casa o único vínculo dela é com a escola. Foi uma coisa maravilhosa que aconteceu, tem que ser valorizada ao extremo. Se não fosse isso, a Marine estaria até hoje na oitava série”, afirma Jaqueline, que no passado colocou a filha em escolas particulares e não encontrou apoio igual ao que recebe na rede pública estadual.
Matriculada na 2ª série do ensino médio do Colégio Estadual do Paraná, ela segue com as aulas domiciliares com a professora Patrícia Torres, todas as segundas e sextas à tarde. Marine poderia ter professores específicos de Linguagens, Humanas e Exatas, mas pela questão de vínculo optou apenas por Patrícia, que além de se dedicar ao Sareh desde 2014, dá aulas de História no Colégio Estadual Tarsila do Amaral, em São José dos Pinhais. “Ela é excelente em Artes, Matemática e Química”, frisa a professora.
Segundo a mãe, que periodicamente vai ao colégio entregar as tarefas feitas pela filha, a intenção é que ela gradativamente volte à escola e quem sabe não necessite mais do Sareh, cuja função é, entre outras, possibilitar a reinserção no ambiente escolar: “Se Deus quiser ela vai voltar e esse atendimento é essencial para que isso possa acontecer”, arremata.
AEN