Cotidiano

Araupel: Com medo de perder empregos, funcionários cobram reintegração

Trabalhadores fizeram protesto na terça; eles temem o fechamento da empresa

Quedas do Iguaçu – Cerca de duas mil pessoas protestaram ontem em Quedas do Iguaçu. Funcionários da Araupel, familiares e prestadores de serviços bloquearam o tráfego na PR-473 e se concentraram na região central da cidade.

Eles apelam para o governo do Estado para que as reintegrações de áreas da Araupel, já autorizadas pela Justiça, sejam cumpridas. Caso a atual situação prossiga, o risco é de a empresa ser obrigada a demitir. Alguns não escondem o temor de a reflorestadora fechar as portas.

Com camisetas e bonés da Araupel e com cartazes com frases diversas, os manifestantes pedem que o Estado faça a sua parte e logo, porque do contrário as consequências poderão ser muito graves.

“Não vamos aceitar perder nossos empregos em consequência da ação de um grupo que se coloca acima das leis e das regras mínimas de convivência em uma democracia. Vamos defender nossos empregos e nossas famílias, custe o que custar”, dizia ontem um dos antigos funcionários da empresa, que preferiu não revelar o nome.

“Todos temos medo. Há muitos marginais infiltrados no Movimento Sem-Terra”, afirmava outro dos manifestantes.

Desde que o MST invadiu áreas da Araupel em Quedas, os índices de violência foram fortemente pressionados no município. Há casos de cinco homicídios apenas em um fim de semana. O movimento de ontem, que seguiu o de transportadores autônomos da semana passada, resulta de novas ações do Movimento Sem-Terra, que bloqueou acessos a áreas de corte de madeira, a matéria-prima da empresa.

Desde o dia 5 de outubro não há como chegar a locais de extração da empresa em Rio Bonito, na divisa com Quedas. Sem madeira, a área da reflorestadora parou e a indústria segue em ritmo lento.

“A empresa não tem como suportar uma situação tão grave. Cadê a lei, cadê o Estado? Estamos abandonados e se nada for feito as consequências serão das mais graves”, dizia a mulher de um operário da empresa que teme ver o marido sem emprego e sem salário.

“Mas que reforma agrária é essa, que quer assentar famílias em troca do desemprego e do empobrecimento de uma região inteira”, questionava.

Líderes do MST estariam ricos

Denúncias sérias foram feitas ontem por pessoas que pedem ao Estado a reintegração de áreas da Araupel. O consenso é de que os líderes do MST (seriam cinco pessoas em Quedas) estariam ricos às custos das bandeiras que o movimento defende.

“Eles ficam com boa parte do dinheiro que é para as famílias, comercializam lotes de assentamentos, extraem e vendem madeira e plantam extensas áreas de terra”, diz um dos moradores, que também teme revelar o nome.

Pesam contra os invasores ainda o corte ilegal de madeira em áreas de preservação, a destruição de áreas protegidas e a morte de animais silvestres. Tudo já foi denunciado e nenhum ambientalista, ong ou órgão ambiental se pronunciou para investigar e punir possíveis culpados. Há poucos dias, 19 lotes do Assentamento Celso Furtado, em Quedas do Iguaçu, foram reintegrados porque as famílias venderam as áreas ilegalmente. A liderança do MST não foi localizada para dar a sua versão.

Ligações perigosas: Qual é o lado do Serighelli?

Uma foto que circula nas redes sociais revolta líderes paranaenses e pessoas que acompanham o drama de trabalhadores, moradores e empresários de Quedas e de Rio Bonito do Iguaçu. O secretário de Estado de Assuntos Fundiários, Hamilton Serighelli – à direita na foto -, aparece ao lado do fundador do MST, João Pedro Stédille, do líder do movimento de esquerda Roberto Baggio, e do superintendente do Incra no Paraná, Nilton Guedes.

O Serighelli sorridente da foto é o mesmo que não fala com empresários e líderes de Quedas e que quando está na cidade fica nas áreas de invasão. É o mesmo que defende o diálogo como melhor saída para a solução do impasse gerado pelo MST. Perguntar não ofende: o lado do secretário não deveria ser o da Justiça?