Quando o assunto é proteína animal, o Paraná é protagonista no Brasil e, por sua vez, no mundo, tanto em relação ao frango de corte como na produção de ovos comerciais, ocupando a primeira e segunda posição, respectivamente. Em entrevista exclusiva concedida à equipe do Jornal O Paraná, o secretário da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Paraná, Norberto Ortigara, falou sobre o temor e da preocupação com a possibilidade de a gripe aviária contaminar algum plantel comercial no Estado.
Ortigara destaca, sobretudo, as medidas de biossegurança adotadas pelo Paraná e a rápida mobilização de demais órgãos como IAT (Instituto Água e Terra) e Ministério Púbico, caso esse fato se confirme. Todas as propriedades rurais com animais estão inseridas no georreferenciamento. Conforme Ortigara, em caso de contaminação das aves comerciais, as propriedades localizadas em um raio de três quilômetros a partir do ponto central da contaminação, sofrerão intervenção, visando a eliminação de planteis e destinação correta dos animais abatidos.
Caso necessário, esse avanço envolverá um raio de até 10 quilômetros a partir do foco da doença na propriedade, para fins de varredura de toda a área nessa circunferência. A proteína animal é um valioso ativo da economia paranaense, por isso que os cuidados precisam ser redobrados. E esse trabalho precisa, principalmente, da conscientização do avicultor. É preciso fortalecer práticas simples para inibir o avanço da influenza aviária para dentro dos aviários comerciais.
Alguns dos cuidados que precisam ser tomados são: terrar aviários; fechar as portas para evitar o ingresso de aves migratórias; desinfecções de caminhões que entram e saem das propriedades, com pintainhos, rações e ovos e um ponto extremamente importante, que é o de evitar a presença de pessoas estranhas no ambiente de trabalho. O uso de EPIs (Equipamento de Segurança Individual) é um método de prevenção importante para conter o avanço da gripe aviária para dentro das propriedades comerciais. Somando abate e processamento, a avicultura de corte é responsável pela geração de 100 mil empregos no “chão de fábrica”, movimentando e dando valor à produção d e soja e milho, garantindo oportunidades a outros segmentos indiretamente, como no segmento do transporte, na produção de ovos galados, ou seja, em toda a cadeia produtiva do setor.
“Por isso toda essa preocupação. Então ninguém está seguro. Estamos com temores, mas confiantes na capacidade de intervenção do Paraná, caso tenhamos algum foco”, diz o secretário estadual. “Temos todas as estratégicas desenhadas, um plano de contingência, apostando mito na proteção por meio de medidas preventivas. Pode ser que não tenhamos nada, mas diante do risco de surgir, precisamos estar preparados”.
A avicultura é a segunda atividade que mais gera valor na propriedade rural paranaense. “Ano passado, por força da perda da soja, a avicultura em geral foi a que mais gerou valor nas nossas propriedades rurais”, recorda Ortigara.
Sempre registro
O Brasil era um dos poucos países no mundo sem o registro de influenza aviária, mas a pandemia estabelecida em vários países acabou favorecendo a chegada da doença no País. “A influenza aviária pouco a pouco foi descendo dos Estados Unidos, Colômbia, Venezuela, Peru, Equador, Bolívia, Chile, Uruguai, Argentina, até chegar no Brasil, entrando pelo Espírito Santo e depois avançando para o Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e agora, Paraná”.
A partir dos primeiros registros em solo brasileiro, o Paraná passou a fazer uma exaustiva coleta de amostras, totalizando 20 mil, visando o monitoramento de ambientes, especialmente a coleta direcionada para a avicultura caseira e também envolvendo as aves silvestres. “Fizemos dezenas de eventos de sensibilização dos nossos produtores rurais, principalmente avicultores, para que reforçassem as duas medidas de biosseguridade e de proteção do seu patrimônio”.
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Protocolos padronizados
Norberto Ortigara ainda destacou as negociações com o Ministério da Agricultura e com outros órgãos de sanidade de outros estados para a definição de padrões de protocolos, caso haja a constatação de contaminação na avicultura comercial. “Temos planos de contingência, elaborados junto às empresas, sensibilizações e motivações aos prefeitos, suas equipes técnicas e também um entendimento com o IAT e o Ministério Público para uma pronta ação, rápida e eficaz”.
No sábado, em comunicado oficial, a Secretaria de Estado da Agricultura e a Cidasc (Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina) confirmaram um episódio de gripe aviária em uma criação doméstica no estado. Esse é o segundo caso do Brasil. O primeiro foi identificado em uma propriedade no município da Serra, no Espírito Santo. De acordo com informações do governo catarinense, o caso aconteceu em Maracajá, no litoral sul do estado.
Foto: AEN