Opinião

EDITORIAL: Dois brasis

Enquanto o funcionalismo público não tem previsão de receber nem a reposição de inflação sobre seus salários durante um longo período de tempo, num outro Brasil, mais bonito e rico, servidores do sistema judiciário terão seus salários acrescidos em 16,38%. Além disso, tiveram assegurado o auxílio-moradia, agora incorporado ao salário, em definitivo.

Mas o que tem a perder um presidente que assumiu mandato tampão e não foi reconhecido nem por quem votou nele, que quase foi cassado duas vezes e que registra a pior avaliação da história da República?

Deixou uma herança para quem assumir a Presidência ano que vem de R$ 6,9 bilhões na folha, já que o aumento do teto dos salários do ministro provoca um efeito cascata mais vigoroso que as quedas de Itaipu.

Como levar a sério um País como esse? Com um dos seus maiores contingentes de desempregados, o maior contingente de subempregados, queda no nível de renda que levou os salários médios da população aos valores correntes de 2013, setor produtivo patinando para voltar a crescer, déficits públicos históricos…. Simplesmente, não dá para acreditar!

Parece simples um presidente sentar com os ministros do STF e assegurar tudo aquilo que pediram sem saber de onde isso vai sair. Mas e como os estados vão pagar a conta? E outros órgãos do setor público, como universidades e hospitais que também terão impacto na folha?

Existem dois brasis… um onde as pessoas tentam sobreviver com um salário mínimo de R$ 1 mil, saúde capenga, falta de vagas em creches, ensino sem qualidade ministrado por professores mal pagos; e outro onde vivem os marajás, com salários vultosos engrossados por auxílios desnecessários que eram pagos para compensar o reajuste que agora ganharam e que não precisarão mais devolver, lá onde a crise não existe.