Quedas do Iguaçu – A Sejuf (Secretaria de Estado da Justiça, Trabalho e Família) vai acompanhar de perto o desdobramento do que pode ser o caso de um abusador em série que age há mais de 30 anos dentro de uma escola pública em Quedas do Iguaçu, no sudoeste do Paraná.
O relato que endossa e que dá origem ao aparecimento das vítimas é de uma mulher que afirma ter sido abusada pelo professor de educação física na escola onde estudava 30 anos atrás, em Quedas do Iguaçu.
Sem coragem de denunciar e ameaçada pelo agressor, na época a criança aguentou calada a série de estupros que se repetiam sistematicamente dentro da unidade educacional sob a ameaça de que ele mataria toda a família da menina se ela contasse para alguém.
Após três décadas de sofrimento calada, ela encontrou nas redes sociais a coragem para relatar sua angústia. Foi quando descobriu que não estava sozinha.
Desde que o depoimento veio à tona, outras vítimas, de ambos os sexos, resolveram denunciar o abusador e os casos têm se multiplicado. São 15 relatos de abusos com pelo menos dez deles com boletins de ocorrência e evidências que apontam dezenas de outros, de pessoas que ainda não se encorajaram a acusá-lo formalmente.
Isso porque, apesar de os registros iniciais serem de mais de três décadas – boa parte até já prescreveu -, há pelo menos três casos bem recentes: em fevereiro, maio e setembro de 2018, mas que outras vítimas após essas datas também estão surgindo.
Segundo o grupo dos violentados que se autoapoia, todos os relatos foram levados à Polícia Civil, ao Ministério Público e ao Poder Público Municipal, o qual nos últimos anos vinha sendo informado sobre a ação do educador da rede pública municipal.
A indignação é pelo fato de que, mesmo após as denúncias feitas em 2016, por exemplo, o suspeito continuou dando aulas e chegou a ser promovido a diretor. “Se ele tivesse sido afastado imediatamente, quantas pessoas poderiam ter sido poupadas? Quantos abusos teriam deixado de acontecer?”, questiona uma das vítimas.
Rede social
Cansados de não serem ouvidos pelas autoridades, as vítimas do passado viram na rede social a possibilidade de tornar a situação pública. Logo em seguida apareceram relatos de casos mais recentres.
E, como a situação foi ganhando repercussão local, somente no mês passado é que a Prefeitura de Quedas do Iguaçu afastou o acusado e instaurou um processo administrativo disciplinar para investigar um possível desvio de conduta do professor. A Portaria 15/2019 é datada de 14 de fevereiro de 2019.
Adolescente pode ter sido dopada e estuprada
Entre os casos existe um bastante recente. Trata-se de uma adolescente de 12 anos que pode ter sido dopada pelo diretor e estuprada na sala da direção. Ela teria ido reclamar que não se sentia bem, e recebeu um remédio, mas dormiu em seguida. A menina disse aos pais ter acordado com muita dor nas partes íntimas e que estava sangrando. A jovem é sobrinha de uma mulher que foi abusada pelo professor há mais de 30 anos.
Autoridades
A reportagem tentou contato com a secretária de Educação, Janice Barbieri, mas a informação é de que ela estava em viagem a Cascavel. O celular dela estava na caixa postal e, apesar do recado, não houve retorno. O Jornal O Paraná também tentou contato com a prefeita de Quedas, Marilene Revers, mas ninguém atendeu as ligações.
No Ministério Público a informação é de que, como se tratam de crianças, o processo tramita em segredo de Justiça. Não foi confirmado se já houve instauração de inquérito.
Parte das vítimas que denunciou o educador estaria sendo procurada e coagida por ele e pela família para que desistam dos processos judiciais.
A reportagem não conseguiu contato com a defesa do suspeito nem com ele.
Reportagem: Juliet Manfrin