Esportes

'Favorito' entre olímpicos, vôlei quer consolidar popularidade na Rio-2016

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Enquanto dentro de quadra os times comandados por José Roberto Guimarães, no feminino, e por Bernardinho, no masculino, tentarão chegar ao tricampeonato olímpico para o Brasil, fora das quadras a luta do vôlei é outra, de prazo mais longo e ações bem mais incertas que um ataque de Sheila ou Lucarelli: manter e fazer crescer a popularidade do esporte, num cenário nem sempre favorável, seja internacionalmente, com a concorrência de outros esportes de mais apelo midiático, ou no âmbito interno, onde as fontes de receita do vôlei nacional vão decair num futuro próximo.

Vôlei Rio-2016

Os principais dirigentes do esporte, porém, tentam enxergar com otimismo. A Federação Internacional de Vôlei (FIVB) se ampara nas próximas duas sedes da Olimpíada: o Brasil (Rio de Janeiro), onde o vôlei é uma espécie de ?primeiro esporte olímpico? e, em 2020, no Japão (Tóquio), país que rende à modalidade seus principais contratos comerciais com patrocinadores.

Formar público para o vôlei é primordial, e por isso um aspecto se tornou praticamente uma obsessão dos cartolas da FIVB: as transmissões pela televisão. Já vem do ano passado a orientação para que se encurte ao máximo o tempo perdido entre um ponto e outro, a fim de garantir que o tempo de jogo continue viável para as transmissões da TV aberta, sem ultrapassar duas horas de duração. Além de pedir aos jogadores que evitem comemorações demoradas, árbitros e operadores de imagens estão sendo treinados para agilizar o processo de revisão de pontos.

CASA DO VÔLEI EM COPACABANA

O próximo passo é criar uma cultura de transmissão mais atraente e que ajuda a formar ídolos.

? Uma dificuldade do vôlei é ter jogadores conhecidos como em outros esportes. Não se deve confundir o fato de ser um esporte coletivo com não poder ter brilho individual. Isto passa pela comunicação, desde os replays, tentando trazer imagens mais plásticas dos lances, até o relacionamento com o público no ginásio e em casa? diz o secretário geral da FIVb, Luiz Fernando Lima, que durante anos foi diretor da TV Globo. ? O tênis, que também é um jogo contado por pontos e não por tempo, sumiu da TV aberta. Hoje você encontra, mas só na fechada. Este não pode e não será o futuro do vôlei.

O tênis, que também é um jogo contado por pontos e não por tempo, sumiu da TV aberta. Este não pode e não será o futuro do vôlei

Com relação ao Brasil, a mais premente preocupação é de outra ordem. O contrato de patrocínio do Banco do Brasil (BB) rende à Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) R$ 70 milhões anuais, o que corresponde a aproximadamente dois terços do faturamento da entidade, incluindo demais parceiros e receitas como bilheteria de torneios, aluguel do CT de Saquarema e os recursos da Lei Piva. O compromisso com o BB está em seu último ano, e já é sabido, pela crise econômica do país e a necessidade de cortar gastos do governo federal, que ele não será renovado pelo banco estatal pelos mesmos valores.

Outros três acordos de patrocínio (Mikasa, Olympikus e TV Globo) terminam até abril do ano que vem e estão em negociação para renovação. Uma medalha de ouro, no masculino ou no feminino, ajudaria, mas a CBV se articula para suportar a perda de receita.

? Estamos cientes de que as receitas podem diminuir, não temos a certeza de que contaremos com os recursos públicos após os Jogos. Já apertamos o cinto, cortamos gastos. Temos um planejamento até 2020 que passa, além de manter nossas seleções no pódio mundial, encontrar novas fontes de receita: e-commerce (venda de produtos licenciados pela internet), relacionamento com o torcedor, entre outros ? diz Ricardo Trade, CEO da confederação. ? Estes ciclos olímpicos favorecem o vôlei. O Japão tem enorme interesse, faltam quatro anos e já recebemos convite de uma cidade japonesa para hospedar nossa seleção nos Jogos de Tóquio.

Estamos cientes de que as receitas podem diminuir, não sabemos se contaremos com os recursos públicos após os Jogos. Já apertamos o cinto, cortamos gastos

A Olimpíada é oportunidade para semear a popularidade do esporte. A FIVB montará centros de vôlei, com quadras para a população carioca, em três pontos da cidade durante os Jogos: no Parque Madureira, no Morro da Formiga, na Tijuca, e no Forte do Leme, na Zona Sul. Além disso, a escola municipal Cícero Penna ? um pequeno prédio de três andares, na esquina com a República do Peru, em Copacabana? será a Casa do Vôlei, um centro de hospitalidade para promoção de eventos, recebendo ex-jogadores, patrocinadores e a comunidade do esporte em geral. Uma quadra na areia, no trecho em frente à escola, será aberta ao público a fim de lembrar que Copacabana é o berço mundial do vôlei de praia.

A escola recebeu investimento de R$ 550 mil para reforma de toda a parte elétrica e hidráulica e, em troca, cederá seu espaço durante as semanas da Olimpíada, quando os alunos estão de férias. Na última quarta-feira, Tande, campeão olímpico em Barcelona-1992, esteve na escola para conversar com algumas turmas (são no total cerca de 600 alunos, entre 5 e 12 anos).

? Fico feliz de ter este contato com as crianças, vários vieram me dizer que querem jogar vôlei. Eu também comecei por acaso, indo acompanhar minha irmã (Adriana Samuel, prata em Atlanta-1996 e bronze em Sydney-2000 na praia): perguntaram se eu queria bater uma bola e fiquei. A gente tem de aproveitar a Olimpíada para conquistar jogadores e torcedores ? diz Tande.