Policial

Investigação auxiliada pela internet e pela imprudência de investigados

Persistência e experiência de policiais da Delegacia da Criança e Adolescente Vítima (DCAV) e imprudência dos investigados estão dando o tom das investigações sobre o estupro coletivo sofrido por uma adolescente de 16 anos no Morro São José Operário, em Jacarepaguá. Os agentes que participam do caso começaram a descobrir o paradeiro do celular de Raí de Souza, de 22 anos, um dos acusados, que, na versão dele, teria sido destruído, ao repararem, durante uma conversa com sua mãe, que o aparelho dela trazia a indicação Raí novo.

A partir daí, eles buscaram amigos dos suspeitos em redes sociais. Eram mais de 2.000 amigos. Com a ajuda de uma policial que já havia prendido um conhecido deles, o número de pessoas que precisavam ser monitoradas diminuiu para 600. Até que descobriram uma foto postada minutos antes na página do Facebook de um deles em que aparece ao lado de Lucas Perdomo, que chegou a ser preso mas foi solto por falta de provas, e Raí. Os dois aparecem com as mesmas roupas do dia em que foram presos.

Em depoimento depois da sua prisão, Lucas e Raí deram pistas de onde ficava o apartamento onde tiraram a fotografia com o amigo em comum. No fundo da foto, aparecia uma árvore, demonstrando que o apartamento ficava do segundo andar para cima. Com um mandado de busca e apreensão, agentes estiveram no endereço, na Rua Dias Lopes, em Madureira, e perguntaram ao morador onde estava o celular de Raí. Na mesma hora o homem disse que estava num quarto e que havia desligado o aparelho porque ele não parava de tocar. Foi nele que os investigadores encontraram um segundo vídeo em que Rafael Belo e Raí aparecem estuprando a jovem com um objeto.

O celular de Raí foi encaminhado para a perícia técnica, que vai verificar a possibilidade de recuperar vídeos e fotos que tenham sido apagados. Os vídeos no celular dele indicam sua proximidade com o tráfico de drogas. Essa investigação já está a cargo da Delegacia de Combate às Drogas (DCOD).

Também no celular de Raí, a polícia descobriu o áudio em que ele, em conversa com outra pessoa, diz que, por “ordem superior”, os moradores deveriam ir a uma passeata nas ruas próximas ao morro São José Operário, na Zona Oeste, onde o crime ocorreu. Na manifestação, moradores levaram cartazes com dizeres como “não houve estupro”.

“Vai no mototáxi lá, Nathan, avisa lá. Fala que é ordem superior, parceiro. Ordem superior que eu tô (sic) falando. Bota para escutar o áudio. Mano mandou ir no protesto. Se não for, é com eles mesmo”, diz ele.

Outros detalhes que ajudou a polícia a incriminar Raí foram suas sandálias pretas e sua bermuda. Ambas aparecem nos vídeos dos estupros. Ele também as usava quando foi depor e quando foi preso.

Segundo a Dcav, a voz no vídeo a que a TV Globo teve acesso é de Raphael Duarte Bello, o terceiro preso na semana passada.

Raí e Raphael estão presos no Complexo Penitenciário de Gericinó, em Bangu. Ao todo, cinco suspeitos estão foragidos. Eles vão responder por dois crimes. Pelo estupro e pela produção e divulgação de imagem de criança e adolescente.