Esportes

Mary al-Atrash, uma nadadora quase solitária a caminho da Rio-2016

“Representar meu país na Olimpíada é um sonho”. Quando ditas por atletas como a nadadora Mary al-Atrash, tais palavras perdem a aparência de clichê e soam tão originais quanto o nascimento de um país. Atrash representa a Palestina, território que ainda luta para ter reconhecimento pleno como Estado pela Organização das Nações Unidas (ONU). O gesto de carregar uma bandeira no uniforme equivale a um manifesto de existência.

Mas a presença de Atrash nos Jogos Olímpicos do Rio, em 2016, não é dificultada só por questões diplomáticas. Distante do índice olímpico, a vaga da nadadora na Rio-2016 só foi possível devido a uma reserva de vagas do Comitê Olímpico Internacional (COI) para nações cujos atletas não conseguem atingir os critérios mínimos. Competidora na prova dos 50m nado livre, o melhor tempo de Atrash na carreira, de 29,91 segundos, fica mais de quatro segundos acima do índice olímpico, diferença que parece uma eternidade em provas de velocidade.

Na verdade, as questões diplomáticas ajudam, e muito, a explicar as dificuldades esportivas. A preparação da estudante universitária, de 22 anos, foi prejudicada por não ter acesso a uma piscina olímpica.

Aquelas que existem em Jerusalém, próximas à Palestina, são vetadas para a nadadora devido ao conflito diplomático com Israel, que não reconhece a Palestina como Estado pleno. O jeito foi se contentar com piscinas de 25 metros, metade do tamanho que encontrará no Estádio Aquático do Rio. A possibilidade reduzida de sucesso esportivo, porém, não causa desânimo:

— Estou muito feliz. Representar a Palestina em uma competição é um sonho para qualquer atleta palestino, especialmente tratando-se dos Jogos Olímpicos. A preparação está correndo bem. Levando em conta os recursos que nós temos, estabelecemos alguns objetivos e ambições — disse Atrash à agência Reuters.

MAIOR DELEGAÇÃO PALESTINA

Atrash será um dos seis nomes palestinos competindo no Rio. Será a maior delegação que a Palestina enviou aos Jogos desde sua primeira participação, em Atlanta-1996. Sem parceiros de treinamento, a preparação teve apoio apenas do seu treinador, Musa Nawawra.

— Estou muito feliz que haverá alguém da Palestina nos representando na Olimpíada. É algo para se ter orgulho, especialmente com os recursos limitados que nós temos — afirmou Nawawra.

Além da nadadora, a Palestina estará representada na Olimpíada do Rio no atletismo, com Mohammed Abu Khoussa, que vai correr nos 100 e 200 metros rasos, e Mayada Sayyad na maratona. O nadador Ahmed Jibril competirá nos 200m e 400m nado livre. A Palestina também será representada nos uniformes do cavaleiro Christian Zimmermann e do judoca Simon Yacoub, já que ambos têm dupla nacionalidade alemã e palestina.