Cascavel – Entidades do setor produtivo e industrial do Paraná “torceram o nariz” para o corte de “apenas” meio ponto percentual da taxa Selic, os juros básicos da economia. A medida determinada pelo Copom (Conselho de Política Monetária) do Banco Central, gerou críticas, pois os juros permanecem altos, a economia “travada” e o crédito caro.
Na primeira reunião de 2024, o Banco Central baixou a taxa básica de 11,75% para 11,25%. Mesmo assim, é o menor patamar desde março de 2022. A decisão em torno dessa redução foi unânime por parte do Copom, sendo o quinto corte consecutivo da Selic e também a quinta redução de 0,5 ponto percentual. A intenção é realizar esse corte de meio ponto percentual a cada reunião, até deixar a casa dos dois dígitos, de acordo com o comportamento da economia (inflação).
Antes desse ciclo de cortes, os juros estavam em 13,75%. Para esse ano, o mercado financeiro projeta uma inflação de 3,81% Desde o início deste ciclo de cortes, a Selic já reduziu 2,5 pontos percentuais. A expectativa dos analistas financeiros é de que a taxa básica de juros atinja 9% até dezembro deste ano e chegue a 8,50% em dezembro do próximo ano.
Setor rural
Provocado pela equipe de reportagem do Jornal O Paraná a fazer uma avaliação da decisão do BC, o presidente do Sindicato Rural de Cascavel, Paulo Orso, considera que, apesar de “tímida”, a redução boa para o produtor rural. “Entendemos que no agronegócio, muitos produtores criam compromisso com os juros da Selic além, é claro, de outros encargos monetários. Por isso, quanto mais baixa for a taxa de juros, mais margem de negociação o produtor terá e, consequentemente, mais facilidade e segurança para poder arcar com suas obrigações”, comenta Orso. “O sindicato segue atento aos movimentos do Banco Central, observando e entendendo as suas decisões e o impacto delas ao curto, médio e longo prazo”.
O presidente da Faep´ (Federação da Agricultura do Estado do Paraná), Ágide Meneguette, disse ao O Paraná que essa redução da taxa já era esperada, pois vem ao encontro da política econômica implantada no País, com essa série de reduções contínuas. “Entretanto, não estamos observando o efeito dessa redução nas taxas de juros praticados no mercado, principalmente àqueles relacionadas ao crédito rural”.
Os produtores rurais ainda são obrigados a desembolsar juros altíssimos nos financiamentos de custeio, o que resulta na elevação do custo de produção, opina o líder da FAEP que acaba de ser eleito para mais um mandato. “O setor produtivo iniciou as discussões sobre o próximo Plano Safra, que começa a valer em julho, e esperamos ver essa redução da Selic repercutindo na redução das taxas de juros para os produtores rurais”.
Acic e Amic
Por sua vez, para o presidente da Acic (Associação Comercial e Industrial de Cascavel), Siro Canabarro, essa redução é “em decorrência do governo brasileiro não ter feito a parte dele”. Para ele, esse rombo (déficit) na economia tem afetado drasticamente a taxa Selic. “Claro que se a taxa Selic continuar baixando, vai favorecer os empresários – alguns setores, mas se essa queda for substancial, aumenta o consumo, volta a inflação e é isso que não queremos”. Canabarro entende que o Banco Central tem segurado a economia brasileira, mantendo a estabilização em comparação com outros países, como na Europa e Estados Unidos, que estão com sérios problemas. “Ou seja, existe uma regressão na taxa básica de juros, uma estimativa de que ela continuará caindo, só que o BC optou em não fazer uma redução drástica justamente para não voltar a inflação”. Para Canabarro, a expectativa, agora, é de que o Governo Federal faça a parte dele e comece a cortar gastos. “Caso esse déficit fiscal perdure, em um futuro próximo, a taxa Selic tende a aumentar”.
Na ótica do presidente da Amic (Associação das Micro e Pequenas Empresas do Paraná), Jovane Borges, a redução da Selic anunciada nesta semana vai ajudar na diminuição dos juros, mas não o suficiente, uma vez que as empresas precisam lidar com o peso da carga tributária. “Principalmente àqueles inseridas no Simples Nacional, onde a tabela, a base de cálculo não é reajustada pelo menos pela inflação desde 2015, fazendo com que os empresários paguem mais impostos”.
Segundo Jovane Borges, o setor produtivo tem sofrido também com outros aumentos, como o do ICMS nos produtos. “Vamos ver agora com a reforma tributária se algo muda, porque se continuar assim, a vida dos empresários continuará complicada e o impedindo de gerar mais empregos e fazer novos investimentos”.
“Injustificável”
A CNI (Confederação Nacional da Indústria) taxou de “injustificável” a decisão do Copom de aplicar essa redução de forma tão tímida. “O Banco Central precisa compreender mais a realidade brasileira. É preciso mais ousadia no ritmo de queda da taxa Selic para minimizar o custo financeiro das empresas”, comenta Ricardo Alban, da CNI.
Foto: ABR