Mais uma virose a enfrentar, como qualquer ser humano e também como médico atuante em vias respiratórias há cerca de 40 anos – geralmente o principal local de acometimento.
Experimentado, calejado e entusiasta de vacinas.
Na lembrança, ainda os estragos do relativamente recente surto do vírus H1N1.
Destemido? Não! Iniciamos esta guerra contra a covid-19 no início de 2020 marcados por incertezas, dúvidas e receosos das proporções e das gravidades que já se desenhavam pelo mundo afora.
Na ausência de armas comprovadamente eficazes, ficamos apoiados no isolamento.
Mesmo deixando de lado a politização e o sensacionalismo da mídia, além das opiniões de muitos (médicos e não médicos) – como se fossem os únicos detentores do saber -, foi acontecendo a desestabilização da frágil sociedade.
Exercendo a vocação de servir e fazer o bem, o médico acolhe e realiza o tratamento que julga adequado, respeitando a sua autonomia e a do paciente.
Decepcionados pela falta de ação realmente efetiva, debilitados pela quase impossibilidade de mudanças dos rumos da doença, bate o cansaço e a depressão.
A ciência ainda não concluiu de maneira definitiva os benefícios de muitos fármacos amplamente empregados. E continuamos a assistir à disseminação da doença.
E também os envolvidos com muito amor na atenção aos pacientes: enfermeiros, fisioterapeutas, técnicos e toda a equipe assistem diariamente aos colegas sendo abatidos, com enorme pesar e preocupação.
Melancolia e tristezas… Sentir a vida ameaçada e ter medo…
Todos na área de saúde sofrem, e percebem a impotência.
Ainda hoje, grande parte da população está trancada em casa.
Às vezes, começam o dia sem ter o que fazer.
Não transformar sonhos em realidade!
Mesas vazias. Saudades! O emocional já comprometido.
Muitos trabalhando, cada um à sua maneira – porque é essencial, e com todos os recursos e os cuidados necessários. Mesmo assim, muitas perdas econômicas!
A insegurança e a precaução não evitam que em cada casa surja uma história triste, um ente querido que não resiste.
Lutas pelo precioso oxigênio, angústias, internações isoladas e sepultamentos sem homenagens.
Feridas na alma e machucados profundos…
Dura lição, aprender e amadurecer com todo o acontecido, e deixar o passado.
Ansiosos por um tempo de paz dentro de cada um de nós. E sem perspectivas imediatas.
Cada um tem o seu caminho e, mesmo árduo e ainda longo, não devemos nos esquecer de agradecer a Deus pela vida. Pelo ar que respiramos!
E que lá na frente possamos olhar para trás e perceber que tudo o que aconteceu teve um propósito. Que seja em breve.
Quase tudo se compra nesta vida, menos o conforto de um abraço e carinho sinceros.
Pacientes, médicos e equipes, sofridos e verdadeiros heróis, a quem rendemos nosso reconhecimento.
Março, 2021
José Luiz C. Machado – CRM PR 5844