Uma gentileza gratuita, uma gentileza como norma. A vida deveria ser amar, em primeiro lugar. Acolher e cuidar, essas atitudes são a verdadeira distribuição de riqueza.
Filósofos de todas as épocas afirmam que nós, seres humanos, precisamos da bondade em nossas vidas tanto quanto precisamos da verdade e da beleza. “A bondade é o solo no qual a alma pode crescer e florescer. Sem ela os seres humanos perdem o vigor, enrijecem e morrem espiritualmente. A bondade é uma condição necessária para relacionamentos saudáveis e para a prosperidade comum”, afirmou o pensador Henry David Thoreau.
“Numa sociedade egoísta e materialista, percorrer o caminho da bondade exige disciplina nos hábitos que moldam a personalidade e tecem as relações. A bondade aprende-se na doação: gentileza gera gentileza, que conduz à autêntica realização humana, pois somos feitos para ser bondosos”, asseverou o professor de teologia James H. Kroeger. O filósofo Jean-Jacques Rousseau acreditava que a essência do homem era a bondade, mas que a vida em sociedade o tornava mal, pelas incoerências das normas e relações, que acabariam por corrompê-lo.
Provérbios de todo o mundo oferecem-nos visões. “Uma palavra amável pode aquecer três meses de Inverno” (Japão). “A palavra amável é como um dia de Primavera” (Rússia). “A bondade nas palavras cria confiança. A bondade em pensamento cria profundidade. Gentileza em dar cria amor” (Lao Tsé). “Ensine esta verdade tripla a todos: coração generoso, conversa amável e uma vida de serviço e compaixão são as coisas que renovam a humanidade” (Buda). “A minha religião é muito simples: a minha religião é a bondade” (Dalai-Lama).
William Penn, um religioso norte-americano, afirmava: “Espero passar por este mundo apenas uma vez. Portanto, tudo o que possa fazer de bom, qualquer bondade que possa mostrar ou qualquer coisa boa que possa fazer pelo próximo, deixem-me fazê-lo agora. Que não o adie ou negligencie, pois não vou passar outra vez por aqui”. Certamente, esse pensamento remete à parábola do Bom Samaritano: “Vão e façam o mesmo”.
Para o filósofo Platão, aluno de Sócrates, a felicidade é o resultado final de uma vida dedicada a um conhecimento progressivo até se atingir a ideia do bem, o que poderia ser sintetizado na seguinte fórmula: o conhecimento gera a bondade, e a bondade gera a felicidade. Um dos ensinamentos de Platão era: “Sê gentil, porque todos os que encontras estão a travar uma dura batalha”.
Aldous Huxley, em 1932, imaginou um “Admirável Mundo Novo”, num futuro hipotético, onde as pessoas são condicionadas a viver em harmonia com as leis e regras sociais. Não há doença, violência, estresse ou inveja. Mas, também, pelo preço da homogeneidade e da mediocridade, não há arte, ciência ou religião, ou mesmo família ou amizade. O sentido da vida seria apenas a felicidade individual imediata e um corpo perfeito. Não precisamos chegar a esse ponto.
O poeta e escritor gaúcho Fabrício Carpinejar acredita que todos precisamos de uma chance para exercer a gentileza sem exigir nada em troca. Puxar a cadeira, esperar um pouco, facilitar as palavras ou simplesmente concordar com um silêncio. Como a prática gera os hábitos, o respeito aos demais e a busca de uma empatia na convivência familiar, no trabalho e na sociedade, são passos importantes. Enfim, uma gentileza gratuita, uma gentileza como norma. É isso que te proponho, caro leitor. A vida deveria ser amar, em primeiro lugar. Acolher e cuidar, essas atitudes são a verdadeira distribuição de riqueza.
Márcio Eduardo Ouriques Couto – Conselheiro da AMC ([email protected])