Reportagem: Juliet Manfrin
Cascavel – A Delegacia da Polícia Federal de Cascavel vai fechar o cerco a pelo menos dez quadrilhas já identificadas por toda a região que estariam vendendo anabolizantes especialmente a frequentadores de academias distribuídas por todo o Brasil e até mesmo para fora, com remessas que vêm sendo enviadas com frequência daqui para os Estados Unidos.
Segundo o delegado-chefe da PF, Marco Smith, não há evidência de envolvimento das academias e, portanto, elas não são alvo de investigação.
Smith diz que a situação é preocupante, tendo em vista que essas organizações estão se alastrando e crescendo muito do ponto de vista financeiro com a intensificação da comercialização e, consequentemente, do uso. Geralmente compostas por jovens “bombados”, eles usam o próprio corpo como um chamariz à venda dos produtos que entram ilegalmente no Brasil vindos do Paraguai.
Conforme Smith, a maior parte desses medicamentos – que tem como princípio ativo a testosterona – vem do país vizinho, mas as investigações já revelaram que muitas dessas organizações criminosas estão ousadas. Para maximizar os lucros, dificultar a fiscalização e cativar mais mercados, muitas trazem ilegalmente o princípio ativo do outro lado da fronteira para fazer a mistura e o processamento das cápsulas em laboratórios caseiros, sem qualquer controle ou certificação da composição, tampouco de dosagem. “Eles vendem para quem quiser comprar e isso é extremamente perigoso. Uma pessoa com problemas no fígado, se fizer uso de um anabolizante, pode ter as funções do órgão comprometidas e desenvolver até câncer”, alerta o delegado.
Não é de hoje que o assunto vem chamando a atenção da PF. No mês passado, um desses grupos foi desarticulado após monitoramento das suas ações pelas redes sociais. Elas são o principal canal de comercialização. O grupo em específico era de Toledo e um dos suspeitos foi preso em flagrante na BR-277, com um veículo carregado com os comprimidos. A quadrilha costumava enviar as remessas pelos Correios – que são a principal forma de destinação dos medicamentos, inclusive com comprovantes já apreendidos pela PF a destinatários americanos -, mas, como a Polícia Federal interceptou parte das encomendas e elas não chegaram ao destino, um dos suspeitos fazia o transporte para garantir que o produto chegasse aos compradores. Como desdobramento dessa prisão, a PF localizou durante busca e apreensão utensílios usados para preparar os comprimidos.
Situações como essa vêm sendo registradas com mais intensidade pela polícia.
Socorro
A situação extrema levou membros do Conselho Regional de Educação Física à Delegacia da Polícia Federal para relatar a situação e pedir auxílio.
Smith destaca que o grupo se mostrou preocupado com a utilização em excesso dos anabolizantes que causam danos irreversíveis à saúde. “Já era algo que vínhamos monitorando. Fizemos algumas prisões e existem hoje na região essas organizações criminosas que estão disparando o produto para o Brasil e para fora”, resume.
A caracterização de adulteração dos medicamentos ou a comercialização irregular incide no artigo 279 do Código de Processo Penal, com pena mínima de prisão de dez anos. “Somente neste ano a apreensão desses medicamentos aumentou em cerca de 300% na Delegacia em Cascavel”, evidencia o delegado federal.